quarta-feira, 14 de março de 2012
A rosa e o rouxinol
Ao por-do-sol, triste rosa a chorar sozinha
Em sutis soluços na rubra face, pétalas macias
Caiam lágrimas como gotas de doce orvalho
Que lhe deixava pendente, inerte, no frágil galho
Febris sussurros como se a brisa lhe emprestasse a voz
Permitindo à rosa contar ao mundo seu desencanto,
Mas denso silêncio, ao seu redor, se fazia tanto
Que a pobre rosa não ouvia o tão terno e mavioso canto
De um rouxinol que a vendo triste lhe trinou belo gorjeio
E no gorjeio perguntava: Bela flor porque estás tão triste?
Tão belo rosto, rosadas pétalas, beleza de Deus divina
Porque estás tão triste, meu anjo? Bela flor menina.
A flor surpresa, levantando os olhos meigos, mas ainda tristes
Ao rouxinol, com meiga voz, entre soluços lhe contou a dor
Que sentia por ser sozinha, embora bela, ninguém lhe via,
Nas noites frias dormia só e nas manhãs nenhum bom-dia
Calado, o rouxinol ouvia da bela flor a tristeza do seu queixume
E num trinado mais belo que qualquer um que já tenha dado
Olhou a flor bem nos olhos, olhos meigos de um rouxinol poeta
E à flor cantou a canção que só cantaria se estivesse apaixonado
De felicidade a rosa toda se desfez em lágrimas, e sua rubra cor
Mais rubra ficou ainda e... mais viçosa, e mais bela, brilhante até,
E o rouxinol por tão feliz deixou nos olhos duas lágrimas rolar
E todas as manhãs acorda a amada com seu mais belo gorjear.
José João
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