sábado, 15 de novembro de 2025

Até a poesia se foi

 As palavras fugiram como se eu fosse comê-las,
Se esconderam não sei aonde, não as encontro.
As poesias, que dão vida aos poemas, se perderam,
Solidão... saudade se foram e não mais voltaram,

Ainda ontem estavam aqui, cômodas, dentro de mim.
Conversavam sobre adeus, sobre prantos e vazios  
Ao por dos sol se desmancharam em sutis sussurros
Como estivessem tramando, se preparando para um cio

Agora se foram, para a poesia não me deram resposta,
Deixaram-me aqui. Deitados na mesa o lápis e o papel. 
A inspiração também se foi como perfeita aliada fiel

A mim, me bastou ser eu. O silêncio da falta de poesia
Emudece, entristece faz a gente menos gente, carente
Com pensamentos perdidos, desde nada aos indecentes.

José João
15/11/2.025

O importante é amar

A mim... me basta ver um por do sol gritando saudades,
Um pedaço de tempo que ficou das horas que se foram
Pedaços de solidão cerzidos em retalhos de lembranças
Ou até mesmo um resto de pranto, prantos de verdade

Isso me basta para fazer de palavras soltas lágrimas escritas
Para mergulhar em vazios e deles trazer pedaços de mim
De costurar-me em poesias que, ainda mesmo incompletas,
Deixam-me inteiro, ainda que não usando as palavras certas

Sou o que não sei, será que um dia me fizeram de saudade?
Será me fizeram de um sonho, desses que se sonha acordado?
Ou será fizeram de mim aquele que não precisa ser lembrado?

Não sei. Mas sempre deve ter havido alguém do meu lado
A me fazer único, a me fazer todo, completo e cheio de mim
Afinal, aprendi que o importante é amar, nem tanto ser amado

José João
15/11/2.025

O luar na minha sala

 Um ranger na janela como se quisessem abrir
Levanto e vou, quem estaria querendo entrar?
Era a brisa, tentando abrir a janela para o luar
Com se ele tivesse alguma coisa a me contar

Sem cerimonia, entrou e sentou-se no chão, 
A brisa agora se fazia voz recitando uma poesia
O luar, comodamente sentado, ainda em silêncio,
Deixava parte sala sem luz, como se estivesse vazia

Sentei, olhei para o tempo pela janela cheia de luar
E apenas pensei, o luar entra aqui e nada me diz?
Fica inerte sentado no chão, mudo sem nada falar?

Fui à janela e, ao tempo, cheio de luar, perguntei
Sabes o que faz, em minha sala, esse emudecido luar?
- Disse vir te tirar da solidão e contigo conversar

José João
15/11/2.025

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O milagre de amar


Dou-me a ti, como fosse o luar a se entregar na noite
Como fosse o perfume da flor a se entregar ao tempo
Dou-me a ti por apenas me entregar, sem nada pedir
A não ser um pouquinho de ti para ainda poder falar

Não importam os sentimentos, a eles agora os conheço
E me entrego ainda, mas agora não tenho o que pedir
A não ser uma alma amiga que me sirva para eu sonhar
Para escrever ao tempo e dizer o que ainda sei sentir

Fazer dos versos gritos que devem chegar ao mundo,
Que cheio de amor despertem corações adormecidos
Que ainda não aprenderam que amar é mais que viver
É estrar vivo eternamente é ser, um verdadeiro ser

Dou-me ao amar por apenas amar, estar na poesia
E dela fazer  minha voz, no cantar sublime que sempre
Vai acalentar corações, os que mais precisam, os tristes
E a esses entrar na alma e nela gritar: o amor existe

Se o amor existir em cada um sem medição de tempo
Se amarem como se o que é amar for a própria vida
Amar, por apenas amar se entregar pelo prazer de amar
O tempo se fará eterno e não terá mas porque chorar

Até na eternidade os verdadeiros amantes nunca esquecem
Se esquecessem não seria o amor completo... nem eterno
A cada menor fração de tempo um amor que seja verdadeiro
Nunca, nunca mesmo, cada um deixará de ser o primeiro.

José João (coautor)
3/11/2.025

O dia da colheita.

Junta todas essas pedras e coloca-as ali, num canto,
Junta todas essas sementes, e vai semeá-las no jardim
Não tens jardim? Faz um, com dois jarros farás um
A semeadura é à tua vontade, ou muito ou nem tanto

Os jardins são como poesias, sempre estarão vivos
E  sempre falarão de ti, darão até teu nome a ele
Mas se  guardas as pedras que será de tua vida
Nelas tropeçarás e terás a solidão como tua amiga

Haverás de um dia, do teu jardim  colher belas flores
E  na vida, com certeza, colherás  sorrisos e obrigados
E sem nem te dar conta terás os tantos amigos do lado

E perguntarás, o que foi que fiz, porque estão aqui?
E ganharás como  resposta um largo e terno sorriso
Aí verás tua colheita e dirás: como plantar é preciso.

José João
13/11/2.025

Hoje não tem poesia.

Apaguei uns tantos versos, alguns por palavras vazias
Que não diziam mais nada, outros, por conta de mim,
Não diziam o que eu queria, se faziam versos mudos
Falando do silêncio como fosse uma história sem fim

Não encontrei nenhuma saudade que se fizesse poesia,
Não encontrei sonhos, os sonhados, perdidos no tempo
Os ainda não sonhados, escondidos dentro dos amanhãs,
A se fazem gavetas com trancas escondendo sentimentos

Busquei momentos que pensava guardados em mim,
No rosto, busquei marcas de mãos que nele passearam
Nem nas lembranças encontrei marcas, não ficaram.

Nem o pranto chegou, até o tempo em solidão se fazia
E eu, calado, clamando pelas palavras que não vinham
Percebi, triste, hoje não sou poeta, hoje não tem poesia

José João
13/11/2.025