quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A solidão da noite dói menos

Lentamente, se arrastando pela tarde, vem a noite
Olhos e cabelos negros, longos, do tamanho do tempo
Se abre como um véu e, sutilmente, acorda o silêncio
Que vem sorrateiro, malicioso, com seu passo lento

E logo atrás, como sombra do silêncio, mesmo sem luz
Vem a solidão... olha dentro da noite e, imóvel, espreita
Buscando almas tristes, corações vazios, angustiados
E, sem que se espere, ela entra e confortável, se deita

E os olhos tristes, perdidos na noite, buscam em prantos
Espantar a solidão, o silêncio, com o doce alvor do dia
Com voz embargada, um sussurro apenas, a alma chora,
Em orações perdidas, pedem para as estrelas irem embora

Assim também a noite se vai, o silêncio se perde em sons,
As flores se abrindo nos jardins, pessoas indo e vindo
A alma, com um sorriso triste, se pensa livre da solidão
Sem saber que ela dói muito mais no meio da multidão

José João
24/08/2.023

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Ei! O pranto é belo, mas o sorriso tem mais encanto

 Que a poesia se faça bela como o alvor do dia,
Pintada por tantas e belas matizes coloridas
Com versos perfumados de flores se abrindo
Com a harmonia misteriosa de pássaros sorrindo

Que os versos se façam sorrisos de alegria
E as rimas... as rimas que se façam de canto
Que possas ouvir em silêncio, coração batendo
E trazendo de dentro de te... teu tanto encanto

Depois de ouvir esses versos, fecha o olhos...
Vai lá dentro de tua alma e sem medo, vai te buscar,
Ti traz de volta, sorrindo com teu mais belo sorriso
E deixa teu coração livre, solto, alegre, sorrir e cantar

Te dá as mãos, com certeza, és tua melhor amiga
E vai... vai... mas não tenha tanta pressa de chegar
As vezes, a ansiedade nos faz errar os caminhos
Devagar ainda tem-se as marcas dos pés para fazer voltar

Se queres chorar, chora, mas não tanto, o sorriso...
Ah! O sorriso está bem a teu lado, louco para sorrir
Louco para encontrar teus lábios...e o pranto?! 
Que se vá... sorrir tem mais prazer... mais encanto.

José João
23/08/2.023

A vida é feita de muitos sabores

 A vida... acreditem, é feita de muitos sabores!
Alguns, conhecemos, outros apenas imaginamos.
O beijo que demos com a alma, que sabor divino!
Mas que gosto terá aquele beijo que nuca trocamos?

Os beijos que deixamos passar! Que nunca demos!!
Poderiam ter o gosto de ontem, de hoje, de sempre
Hoje, poderiam ter o doce sabor de uma saudade...
E nos viriam da alma como fossem uma novidade

A vida... acreditem, é feita de muitos sabores
O sabor das lágrimas, quer sejam alegres ou tristes
Com os olhos sorrindo ou em súplicas derramadas
Têm sempre o mesmo sabor, sempre serão salgadas

Das lágrimas, não sei porque, conhecemos o sabor!
O sabor do amor, apenas a alma se dá o prazer de sentir
Ah! Que paladar tão pobre é esse de tão pobre corpo!!
Que sem a alma, coitado, nem sente e nem pode existir

Mas.. e o sabor da vida?! Cheio de sorrisos e prantos?
Fica difícil de sentir, por vezes, não raro, se misturam 
Aí é preciso buscar, no próprio pranto, qualquer encanto
E sorrir, fazer do sorriso um divino e milagroso manto

A vida... acreditem, é feita de muitos sabores!
Não acreditam?! Ela tem até o sabor da primavera,
Faz que os olhos orvalhem para regar as flores
Faz o sorriso brincar de ter infinitos sabores ...e cores

José João
23/08/2.023

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O tempo.

Para! Gritei ao tempo com voz rouca, amarga...
E ele, o tempo, riu-se às gargalhadas, irônico
Me olhou de cima abaixo e me mandou calar
Ainda disse: Sou o tempo! Mando e sei esperar

Quem mais que eu para saber dessa tua vida?
Sei até quantas vezes tu, escondido, choraste,
Sei os nomes que gritavas em desesperado silêncio
Sei até as orações que, em agonia muda, tu rezaste

Como ousas a mim, mandar parar? Afronta-me?
Bem sabes que eu também te enxugava o pranto
Sou eu que ainda põe em tua alma algum encanto.

Te conheço desde muito e sempre estive atento
Te ensinei amar, sentir saudade, até mesmo viver
E lembra-te, passo em te como quiser, e nada podes fazer

José João
18/08/2.023

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Ontem... não tive tempo de ser triste

Ontem foi um dia diferente... quase sem nada pra fazer
Nem mesmo uma poesia... não tive tempo de ficar triste
Vieram saudades risonhas, lágrimas alegres, extravagantes
Até sonhos coloridos contando história que nem existe

Ontem brinquei de mal-me-quer com belas flores douradas,
Mas o bemmequer, feito criança, sempre ganhava sorrindo 
E na tarde cheia de nuvens coloridas, de um colorido sem fim,
Os passarinhos alegres gorjeavam com se fosse pra mim

Ontem não tive tempo de ficar triste, a brisa leve me abraçava,
Sussurrava uma sinfonia que despertava a mim e à alma
Que se debruçava sobre o tempo, e alegre, também cantava

Hoje, lembro de ontem, mas agora ouço a sinfonia do tempo
Som mais forte, acordes... por vezes, mais graves... roucos
Ontem não tive tempo de ser triste... hoje, hoje... ainda tento.

José João
17/08/2.023

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Sorrir... todos os sorrisos que ainda não sorri

Comecei outra vez... não um recomeço qualquer, 
Nem mesmo sei se é um recomeço ou um seguir,
Se é continuar até um outro e qualquer horizonte
Se é buscar desconhecidas estradas mas sempre ir.

Veredas, caminhos, sonhos, sempre haverão de existir
Mesmo se levando apenas angustias, dores e prantos
Caminhando lento, cantando, mesmo um triste cantar
Sem pressa, deixar marcas para, se preciso, saber voltar

Não sei até onde vou, muitas lágrimas deixei para trás,
Mas sei, ainda tenho tantas que me é muito fácil chorar
Se vou precisar delas, não sei... mas é melhor guardar

Talvez não dê os mesmos tantos passos que já andei
Talvez não chore os mesmos tantos prantos que chorei
Mas quero sorrir, muito, todos os sorrisos que nunca dei

José João
14/08/2.023

Uma poesia de palavras soltas

Nenhuma poesia pode retratar essa dor que sinto,
Nem dizer das lágrimas que caem avulso dos olhos,
As ladainhas que rezo não são mais orações rezadas
São apenas heresias ditas  pelas tantas dores choradas


Os versos são alinhavados com palavras sem sentido,
Nada dizem, se rompem em gemidos tristes e mudos
Como se falar fosse pecado então gritam em silêncio
Num esganar de sons... mas os ouvidos parecem surdos

Os versos se fazem em pedaços... com um fim incerto
Descrevendo incoerências, sem rimas e sem sentido
Como se vagando no tempo,  como se estivessem perdidos

Uma poesia feita de prantos, mas escrita em palavras tortas,
Uma poesia feita de versos, mas escrita de palavras soltas
Uma poesia  feita de vazios, com se as palavras estivessem rotas

José João
14/08/2.023

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Que o pranto escreva a poesia

Ao longe, notas musicais, como fossem lágrimas
Dançam com a brisa e se fazem apenas melancolia
E vão, as duas  juntas, abraçadas, contando histórias
Como fossem ladainhas, mas são só pecados e heresias

E a poesia, distante e fria, ouve os acordes tão tristes
Que se recusa ser poesia... pede que os olhos escrevam,
Mesmo vazios e distantes, escrevam com o próprio pranto
Até saudades que já foram belas, agora sem nenhum encanto

As palavras envelheceram, como velhos e perdidos trapos
Os versos ficaram angustiados como se  tivessem vida. 
As rimas!! Essas se fizeram cicatrizes na alma perdida

Assim ficaram, alma, saudade e tristeza, na mesma poesia
Que mais parecia um cantar solto indo a lugar nenhum
Um canto sussurrado, reticente... sem nenhuma harmonia

José João
09/08/2.023

O sorriso e o pranto

De repente, de um sorriso nasceu o pranto
Os olhos brilharam sem nenhum encanto,
Os lábios, que antes alegres cantavam eu amo,
Calaram, Não havia mais motivos para o canto

O pranto, a quem o sorriso não permitia falar,
Gritou um grito estridente de dentro da alma,
Um grito que saiu dos olhos e foi  ao tempo,
Livre, solto, sem cancelas, levado pelo vento

E o sorriso, cabisbaixo, talvez até por vergonha,
Aos lábios, que se contorciam, pediu desculpas
Alegando até não ter sido dele, essa toda culpa

E as mãos!!! Que se contorciam frenéticas
Se levantavam ao alto, clamando em direção do céu
Que o grito do pranto lá não chegasse, ficasse ao léu.

José João
09/08/2.023

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Finalmente entendi o que é chorar.

Engraçado! Até ontem achava que chorar era tão ridículo!
Que lágrimas ou prantos fossem apenas uma encenação,
Que chorar era tão... sem sentido! O que poderia ser chorar?
Um fingir? Um apenas enfeitar os olhos? Fazê-los brilhar?

Porque chorar? Pra mim não havia respostas! Tão sem razão!
Os dias passam como sempre, a noite, como sempre, vem,
As pessoas são as mesmas, é o mesmo céu de todos os dias,
Nada disso faz chorar, talvez, seja da alma, uma fantasia

Um dia, sem que esperasse, dessas coisas que acontecem
Alguém me olhou nos olhos, tão ternamente que tremi
O tempo não apagou esse olhar e nunca mais o esqueci

Nunca mais também o vi, parece apenas querer mostrar,
Me fazer sentir que a beleza doce de uma saudade existe!
Foi quando entendi a ternura das lágrimas num chorar.

José João
04/08/2.023