sábado, 30 de setembro de 2023

Apenas finjo ouvir o que a tristeza diz.

Aprendi a ri-me da tristeza, embora possa senti-la,
Riso discreto para que ela sempre me venha assim,
Toda convencida que a alma se encharcará de pranto
E os  olhos... parecerão tristes sem nenhum encanto

Ela, as vezes, vem sutil por entre as angustias que ficam,
Se esconde entre vazios de solidão e por vezes até grita
Tentando que a alma, ao ouvi-la, se derrame em lágrimas,
Se perca dentro do nada, como se estivesse louca ou aflita

Mas eu... deixo os olhos vadiarem alegres no horizonte
Que se percam na beleza que o próprio tempo aplaude
Quando vem, cheia de detalhes, a mais terna saudade

Eu... rio-me quando a tristeza chega com estardalhaço,
Gritando que eu chore, fala até de coisas que nunca fiz
E eu, rindo por dentro, apenas finjo ouvir o que ela me diz

José João
30/09/2.023

terça-feira, 26 de setembro de 2023

A vida em bordados

 Aprendi a dizer com os olhos o que não sei falar
Faço do pranto, palavras a serem gritadas no olhar,
Nas rugas do rosto, mostro as histórias que já vivi
E no silêncio, me entrego todo a apenas me ouvir

Me conto histórias que o  tempo permitiu ficar,
Detalhes de momentos que se fizeram de saudades
Palavras que a voz disse em quase mudos sussurros
Como se dizer o que sente a alma não fosse verdade

Assim me entrego ao tempo e vou costurando versos,
Alinhavando pedaços de mim em poesias incompletas
Cerzindo partes da solidão em fragmentos de tristezas
Tentando de pedaço em pedaço fazer a vida completa

Vou buscando entre os soluços antigos, suas histórias
Assim vou lembrar por quais delas fui obrigado chorar
Se ficaram perdidas no tempo ou apenas esquecidas 
Para que, nas poesias, eu possa pedaços de vida, bordar

José João
26/09/2.023

sábado, 23 de setembro de 2023

Silêncio é: ouvir o que a voz não diz

 Como falar dos meus silêncios sem usar palavras?
De que silêncio falaria se as palavras não dissessem?
Com o silêncio as poesias seriam mudas, sem sentido
E não contaria ao mundo esse tanto silêncio incontido

Mas o que é mesmo o silêncio? Difícil saber dizer,
As vezes ele grita , estridente, bem dentro da gente
As vezes não se escuta o que a voz, lá de fora, diz
Outras, brinca de escrever na alma a palavra carente

Dizem que as vezes o silêncio é solidão, será mesmo?
Ou o silêncio é um querer dizer o que não se sabe falar?
Ou um falar silencioso da gente com a gente a conversar?

Quantas vezes escutamos o que não falamos! Silêncio...
Outras vezes é  um falar mudo como fosse uma procura!
Eu... eu escuto meu grito no silêncio... será que é loucura?

José João
23/09/2.023

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Solidão e saudade...será que são irmãs?

Que dúvida me tomou agora no silêncio da noite!!
Qual voz mais melodiosa, da solidão ou da saudade?
Ouço as duas a me falarem dos momento vividos
Vozes aveludadas, cheias de detalhes e de verdades

As vezes me confundo ao ouvi-las, são tão parecidas!!
Não importa onde esteja, existe solidão na multidão
A saudade não espera hora, também ali pode estar,
Por vezes a solidão é tão passiva, nos faz até sonhar!!

Solidão e saudade! Como se parecem! As vezes penso
Que são irmãs.  tem momentos que a saudade faz chorar
A solidão, por vezes, desperta a alma e a faz cantar

A voz da saudade parece o cantar melodioso do tempo,
A voz da solidão parece o cantar harmonioso do vento,
Mas quando vão, sempre deixam lágrimas e lamentos.

José João
22/09/2.023

terça-feira, 19 de setembro de 2023

As cinco maravilhas do tempo.

Já ouviram o lamento do tempo? Até mesmo seu grito?
Como se o mundo precisasse ser lavado, ser purificado?
E por graça divina em lágrimas choradas em forte pranto
Faz a noite longa, taciturna, fria, quase sem qualquer encanto

Já ouviram o canto da primavera? É um canto divino!
Alguns dizem que a primavera é muda, só tem beleza,
Que as flores se fazem vaidosas e se miram em silêncio
Mas... eu ouço o canto da primavera em toda sua pureza.

Já sentiram o calor ardente, aquele que até invade a alma?
Que faz a solidão menor pelo milagre das noites mais curtas
Fazendo que o dia, abraçado ao sol, mão queira mais passar
Que os lamentos e saudades se façam chuva se faça um chorar?

Já ouviram o chorar das folhas caindo e indo a lugar nenhum? 
Como se fosse preciso folhas novas para enfeitar o tempo?
Nunca ouviram seu canto triste embalado pela solidária brisa?
Que se juntam solenes em espirais, mãos dadas indo ao vento?

Ainda não viram??! Abram a alma, sintam o gosto da vida
Deitem-se sobre as folhas, sintam o doce orvalho madrugar,
Façam-se parte da beleza do existir, façam-se de flores
E assim, como fosse um sonho, sentirão a beleza de amar.

José João
19/09/2.023

O reencontro comigo mesmo.

Havia me perdido por entre caminhos desconhecidos,
Nas margens não haviam flores nem o canto dos passarinhos
As pedras doíam nos pés, as heresias eram faladas, gritadas
Os suspiros eram ouvidos e as orações não eram mais rezadas

Havia me perdido num caminho sem rumo e sem horizontes 
ó se ouvia o eco do grito silencioso e aflito da saudade
Que se perdia no  tempo chorando, esquecida de si mesmo
E, sentada  no tempo, a solidão não escondia a ansiedade

Distante, uma musica como fosse uma sinfonia sem maestro
Voava lenta como se não quisesse ser ouvida por tão triste
E a alma chorava um pranto que só agora soube que existe

Havia me perdido quando, de repente um grito, como luz
Me fez ouvir com os olhos que já se faziam brilhar em pranto
Aí, a saudade sorriu e entregou-se a mim com todo seu encanto

José João
18/09/2.023

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Os olhos dela

Ontem a noite brincava de conferir estrelas,
Ah! Como foi divertido? Até uma estrela cadente
Passou como uma flecha de luz, como fosse um raio
Dessas que se faz um pedido e ela engana a gente

Recomecei a contagem... e outra vez me divertia...
Quando de repente, a chuva,  parecia a noite em prantos
Não vi mais estrelas, perdi outra vez a conta... parei
Me veio uma saudade...que com a noite também chorei

Já, no alvor do dia, quando as nuvens se fizeram claras,
Quando as flores se espreguiçam no caule timidamente
Quando os passarinhos começam uma sinfonia divina
Sobrou uma estrela, sozinha, como se estivesse demente

Quando olhei bem, quando olhei o lume daquela estrela...
Perdi o tempo, perdi a voz, parecia um sonho em aquarela
Aquele brilho celeste, como fosse um pequeno sol a brilhar,
Um olhar que nunca mais havia visto,  era dela aquele  olhar.

José João
17/09/2.023

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

São Luís... ainda és minha oração

 Ah! Que é de a tua beleza de outrora? Onde está?
Te vejo triste, macambuzia, pelos cantos do tempo
Chorando teu passado perdido que se foi ao vento,
De te ouço agora um canto cheio de tantos lamentos

Onde estão as palmeira e os sabiás de saudoso canto?
Onde estão teus poetas que gritavam em belas poesias
A beleza indígena dos tupis, dos guaranis, dos aimorés
Que bravos diziam: choraste diante da morte meu filho não és

Hoje, já não ouço, morto que está, um grito heroico a dizer:
"A vida é combate que  os fracos abate, que os fortes...
Os bravos, só faz exaltar" Onde está a força do teu canto?
Nos versos de agora só ouço lamentos e chorados prantos

Gritando aflito, pergunto: onde estás Atenas do Brasil?
Será que te perdeste das palavras e muda ficaste?
Já não és mais o mais belo som da Última Flor do Lácio?
Doce encanto eterno do falar a que tanto te entregaste?

Onde estão teus rios, tuas fontes, e os teus bosques...?!
As noites, "quando a lua nasce por detrás da verde mata
Parecendo um sol de prata prateando a solidão..."
Por isso, mesmo em lágrimas,  ainda te faço minha oração.

José João
08/09/2.023