quinta-feira, 23 de março de 2023

Minha ousadia...

Sei que não mereço, não estou à altura... mas...
Se num momento de perda de lucidez eu quisesse...
Quisesse falar com Deus? Quisesse ouvi-lo...
Ouvir sua voz, sua resposta para tantas perguntas?
Quisesse tocar seu rosto, abraça-lo como velho amigo!
Será que teria de usar o melhor sabonete, melhor perfume,
Usar a melhor roupa, calçar sapatos lustrosos? Será!!
Como será que Ele me veria? será que essa roupa
Encobriria meus erros e pecados e enganaria Deus?
Ou será que iria com minha roupa de todo dia...
Antes, me posto de joelhos no chão olhando o céu
E perguntando, Senhor estou a altura de lhe ver?
Mereço que me ouças? Estou aqui, Deus, 
Como sempre fui e sou... cheio de pecados, muitos...
E deles me envergonho, mas estou aqui, é o que sou.
Como será que ele me veria? Como um homem...
Como criança, como alguém que só tem defeitos...
Ou será que em mim ele veria alguma virtude?
Ah! Se eu pudesse falar com Deus?! Se eu pudesse...
Mas sou tão pequeno que me satisfaz falar-lhe
Com o prazer de pensar que sou ouvido. Obrigado...
Obrigado Deus por me permitir pensar assim

José João
23/03/2.023

terça-feira, 21 de março de 2023

Como foste ontem?

 Quantas vezes, ironizei o tempo enganando a mim mesmo!!
E o pior, ele bem o sabia e calava, como quem diz: deixa está.
Não tinha pressa, os amanhãs, todos eles eram só meus...
Brincava de zombar das horas, de correr entre os dias,
De viver histórias passageiras, de vulgarizar sentimentos,
De inventar momentos e fingir que eram verdadeiros...
Buscava, entre a multidão, olhares que nem eram pra mim,
Costurava sonhos com verdades e depois os esquecia...
Os dias!! Os dias eram apenas um pequeno espaço de prazer...
E eram muitos os espaços, o viver intenso para preenche-los
Não me dava tempo ver o que seria mais importante, viver
Não esse viver trivial que todo mundo acha que é viver...
Mas é exatamente o tempo que mostra a verdade da vida
Não sei se por vingança, mas ele, duramente impassível
Te curva os ombros, põe reticências na tua voz, te cansa
Os olhos e, aparentemente passivo, te olha nos olhos e...
Pergunta: Como foste quando jovem? Muitos se calam...
Antes que o tempo te pergunte, dá a te mesmo a resposta.

José João
21/03/2.023

Ah! Essas minhas verdades e mentiras!!!

Não vou mais me preocupar com as lágrimas
Elas, se quiserem, que se façam até de prantos,
Que caiam no rosto como fossem água de chuva
Não importa que se façam tristes ou encantos

As saudades que sinto não têm cor nem nome
As tantas tristezas são apenas histórias vividas
Angustias!! Essas se fazem pedaços do tempo
Que os olhos chorem mas são lágrimas perdidas

Tudo ficou muito atrás, desde os adeus não ditos
Não falados, mudos, gritado apenas com os olhos
Como gritam em desespero os corações aflitos

Não  importa se ainda tenho lágrimas pra chorar,
Não importa se ainda tenho saudades pra sentir
Me consola saber que foram momentos que vivi

José João
21/03/2.023

segunda-feira, 13 de março de 2023

Quando só o coração pode ouvir

Caminhei por estradas distantes, caminhos, veredas...
Pisei nas folhas de outono, caminhei nas primaveras,
Juntei flores, fiz versos, com a brisa musiquei poesias,
Como artesão fiz brincos de nuvens cor do sol poente.
Atravessei rios, com eles murmurando canções novas...
Ia sempre, mesmo indo só, por vezes, mesmo na multidão,
Gritava minhas angustias, tristezas, mas ninguém ouvia!
Fazia versos coloridos, triste, alegres e... ninguém ouvia.
Cantei em ladainhas verdadeiras histórias de amor...
Inventei poesias gorjeadas pelos pássaros... não era ouvido.
Um dia, resolvi calar, não contei, nem cantei mais nada...
Aí, sentado sozinho num canto de um tempo distante...
Me perguntaram se eu era mudo... calei... nada disse...
Deixei que pensassem... foi quando o vento, em rodeios,
Me trouxe aos pés uma pétala de uma flor caída no jardim...
E ela me falou tão comovida de como a flor era bela...
Ouvi... e minha alma em silêncio, calmamente disse:
Como querias que te ouvissem? Ninguém mais...
Tem coração para ouvir.

José João
13/03/2.023

As poesias são assim...

Ah! A poesia! Com sua beleza inocente...
Com a inexplicável incoerência da vida,
Gritando loucuras tão cheias de razões
Que abalam até os mais frios dos corações

A inocente e indecifrável loucura das poesias
Dão perfume à saudade, esculpem histórias
Em rostos que a tristeza lhes tirou a expressão,
Fazem dos olhos igrejas e do pranto faz oração

A poesia se faz leve ao tempo, parece brisa
Indo suave, risonha brincando como criança
Entrando, sem pedir licença, nas almas carentes
E lhes contando histórias de amores ardentes,

De momentos vividos que se fizeram relíquias,
De adeus ditos sem palavras, só com os olhos,
De passos perdidos que levam a nenhum lugar
De sonhos que não se  tem palavras para contar

Ah! A poesia! Se veste toda e plena de liberdade
Conta, se quiser, às gargalhadas, histórias tristes
E nunca se sabe se são verdadeiras suas lágrimas
Ou... se são inocentes mentiras as suas verdades.

José João
13/03/2.022

quinta-feira, 9 de março de 2023

A última palavra é do tempo

Ontem... não tinha medo, brincava com o tempo.
Ah! Os meus sonhos mágicos da juventude...
Um amanhã não era futuro era apenas mais um dia.
Sonhava os mais mirabolantes sonhos e... ria do mundo.
Brincava de inventar histórias que só a juventude sabe.
Os dias pareciam parados... meu rosto sempre o mesmo...
Com sorrisos entre alegre e irônico, desdenhava do tempo.
Quantos momentos de prazer! Fazia da vida uma loja...
Dessas de vender brinquedos que amanhã não se  quer mais.
Um dia, quando tropecei num adeus, foi que despertei...
O tempo havia passado, os amanhãs se faziam incertos...
Os sonhos se faziam saudades, e sempre muito doída...
O rosto que era sempre o mesmo todos os dias... surpreso
Vi que mudavam, uma ruga aqui, outra ali, todos os dias
Havia uma me mostrando o tempo. O sorriso irônico
Foi se desfazendo, foi se tornando um sorriso triste,
A vida não vendia mais prazeres, passou a servir prantos...
E assim... me vejo como estou, cabelos brancos,
Saudades, sussurros de lamento e sonhos que não sei
Mais sonhar... A loja de brinquedos... não existe mais.

José João
09/03/2.023

Hoje, quero apenas sonhar.

Hoje, não quero fazer nada... apenas sonhar...
Sentar no meio de um primavera... a mais florida,
(Os poetas fazem quantas primaveras quiserem)
Num canto do tempo, onde a beleza floresce...
Sonhar com o que ainda hei de viver... de sentir...
Conversar com as flores, ouvir suas vozes no perfume
(as flores falam através do perfume e da beleza)
Aí perguntarão: e as que não têm perfume nem beleza?
Falam com o silêncio e apenas o coração pode ouvi-las...
Depende da pureza dos corações e da inocência da alma.
Mas hoje não quero fazer nada... quero apenas sonhar.
Ouvindo a história de Amarilis a brilhar como seu nome,
Ouvir a Azaléia que conta da aridez de sua nascença
Até se tornar a exuberante e invejável flor que é.
Ouvir as flores e sonhar no meio da primavera
Num canto do tempo com o encanto do por do sol
Ouvindo a sinfonia mágica dos pássaros e da brisa
Que sem maestro compõem cantos divinais e únicos.
Hoje, não quero fazer nada, quero apenas sonhar.

José João
09/03/2.023


sábado, 4 de março de 2023

Quando a saudade diz: estou aqui

 Há noites em que a saudade chega de repente
Cantando musicas de ninar cheias de sentimentos,
Trazendo verdades distantes como fossem sonhos
E com elas me vêm antigos e prazerosos momentos

Nem preciso buscar no tempo o que tanto senti
A saudade me trás com um sorridente... estou aqui
E a alma misturando alegria e lágrimas se faz viva
Jurando ser de agora toda a alegria que um dia vivi

A noite se faz confidente ouvindo histórias antigas
E esconde as tantas lágrimas que choro em silêncio
Me ouve calada, me abraça como velha e doce amiga

A insônia vem como se quisesse meus olhos abertos 
Para vê-los em pranto chorando uma dor tão sentida
Por saber, não sei porque, que é dor de toda uma vida

José João
04/03/2.023