quarta-feira, 30 de novembro de 2022

As coisas que já não se sabe dizer

Olha aí o mundo! Cheio de beijos murchos,
De olhares vazios, tristes e perdidos no nada
Palavras gritadas onde o silêncio diria mais
Pobre mundo triste, onde a paz sofre calada!

Perderam-se nos corações a alegria de amar
Os olhos marejados de lágrimas de emoção
Se fazem apenas saudade, velhos sonhos...
Não existe mais quem chore por uma paixão

Fizeram do amar um mero sentimento sem cor
Velho, e até ridículo se alguém disser,...te amo
Os corações congelaram mataram a inocência
E todos gritamos essa tanta e triste carência

Os jardins já não são vistos, ninguém os vê
Quem ainda se lembra dos nomes das flores?
Será que ainda param para ver um por do sol?
Todos estão sem tempo chorando suas dores.

Quem ainda deita na relva para contar estrelas?
Quem entende o grito do silêncio de um olhar?
Quem zela para fazer o outro dormir e sonhar
E diz baixinho, com doçura: vivo pra te amar?

José João
30/11/2.022

Quando digo que amo

Quando eu digo que amo... grito para o mundo
E meu grito vai desde a alma até pertinho do céu
Vai entre os quintais, jardins, vai até o horizonte
Vai fazendo eco nos corações de cada amante

As vezes sussurro baixinho, num silêncio divino
Mas ainda assim o coração explode num cantar
Que faz de cada oração ou ladainha um belo hino
Indo com a brisa leve num doce e inocente valsar

Quando digo que amo... o coração grita num pulsar
Tão forte que esconde a voz e então os olhos gritam,
Brilhantes, como se as lágrimas fossem pedaços de luz
A se fazerem palavras num terno e inocente confessar

Meus prantos alegres! Eufóricos por serem de amor
Contam poesias sem rimas com versos molhados
Pelo pranto delirante e risonho a que nem chamo
Mas ele vem ao me ouvir quando digo... Amo

José João
30/11/2.022

sábado, 19 de novembro de 2022

Seja aquela voz!

O mundo, que pena, perdeu-se nos seus próprios pecados!
As vozes, gritam impropérios por tantos homens bonecos
Não existe mais verdade nos corações, duros por tão frios
E a poesia, coitada, moribunda, neles não faz mais eco

Não há mais amor... os sonhos se perderam entre sombras
O canto de paz foi trocado por gritos tristes de quase pavor
Orações deixaram de ser rezadas e heresias se fizeram lei
Talvez agora, só na voz dos anjos se ouça a palavra amor.

Os olhares deixaram de admirar os campos, ficaram vazios,
Perdidos num árido deserto povoado por uma inerte multidão
Que vai gritando, vai perdida, como se não tivessem direção

De repente uma voz grita bem alto: Deus onde é que estou?
Todos riem, zombam... falam de Deus com bravo rancor
E se enfurecem... quando a voz diz: Deus, dá-me teu amor.

José João
19/10/2.022

Minhas sombras e eu

As sombras que me seguem, são todos do que um dia fui
Me seguem como fossem pedaços de mim que existiram,
Mas continuam sendo eu e vão comigo por onde eu for,
Algumas, presas nos meus passos, outras presas na alma,
Na noite elas estão ali como se pensando com meu pensar
Se desenhando na saudade, na solidão, em risos tristes...
Algumas, em contraste, me espantam em sonoras gargalhadas, 
Me perco ao saber-me assim, um rio de tantas contradições!
Elas, minhas sombras, por vezes me acusam do que sentem,
Uma diz que a dor que ela sente é toda por culpa minha,
Outra, que perdeu um sorriso alegre também por minha culpa,
Uma outra diz que brinquei de amar e ela não sente saudade.
A outra, com fúria nos olhos, me olha e me culpa da tristeza
Dizendo que pra ela deixei a saudade mais doída que existe
E me culpa pelo pranto que minha alma as vezes chora...
Apenas uma sombra minha sorri e pra compensar, gargalha...
Fala mais alto que as outras, numa tentativa de me dizer
Que valeu a pena, que afinal, viver é isso e diz séria;
Um sorriso, apenas um sorriso, espanta qualquer dor.

José João
19/11/2.022

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Viver sozinho não é viver

Percorri muitas estradas, algumas cheias de pedras
Sem margens para descansar, os espinhos era tantos!
Pedras pontiagudas, machucavam e cortavam os pés
Estradas perdidas, sem cor, tristes, cheias de desencantos

Andei muito pelo tempo, em longos e áridos desertos 
Caminhei com multidões por tantos caminhos baldios
Perdidas do mundo, indo sem rumo com passos incertos
Sonâmbulos, como se alma e coração estivessem vazios

Como dói a solidão no deserto! O silêncio que se faz!
Olhar vago procurando dentro do nada o que não existe
Mas na multidão a dor da solidão dói ainda muito mais

Aprendi que devo ser de mim, minha melhor companhia
Saber-me desperto para o que meio mudo está dormindo
Mas não ser só, viver sozinho é apenas viver uma fantasia

José João
15/10/2.022

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Faça da vida um sonho... ame

 Amei como amam os poetas, amar por apenas amar
Buscar dentro da alma sua melhor parte e ... doar...
Entregar sem pedir nada e se um dia houver prantos
Que sejam os mais belos, como se fossem um canto

Desses que os olhos brilham e se perdem ao tempo
Esperando chegar a saudade para contar sua história
Amei sem medo e do amor fiz uma oração perfeita
Entregue a alma como fosse uma festiva dedicatória

Amar! O doce prazer de viver entre tantas incertezas
O doce cantar do pensamento declamando sonhos
Seguir sorrindo até desdenhando de qualquer tristeza

Amar é sempre ouvir uma canção divina de ninar
É costurar o tempo para que os dias não passem
É viver a vida como se viver fosse um belo sonhar

José João
11/11/2.022


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O jovem, a criança e eu

Não deixo a juventude se perder nas rugas do meu rosto
Nem a criança que habita em mim envelhecer comigo
Que vivam a liberdade de serem jovens, alegres e francos
Até permito brincarem zombando meus cabelos brancos
 
E vamos os três, a criança me faz sonhar os amanhãs,
Brinca de criar a cada dia uma esperança toda colorida
A juventude corre comigo em busca de novos horizontes
Me fazem esquecer rotas que no tempo foram perdidas

Para a criança conto histórias que até parecem minhas
Ao jovem conto histórias de amor que ele ainda não viveu
Assim vamos indo, a criança o jovem, eles que ... sou eu

E vou vivendo com a impulsividade da criança, alegre e solta,
Com a ansiedade do jovem que faz da vida um eterno sonhar
E me diz, lá de dentro da alma, que sempre é tempo de amar

José João
10/11/2.022

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Minha história contada pelo tempo

Meus cabelos brancos, ombros curvos, voz  reticente...
Minhas lembranças antigas guardadas como relíquias!
Saudades que ainda gritam na alma, e os tantos sonhos!?
Desde quando os cabelos ainda não tinham o alvor do tempo
Eram sonhados como fossem desenhos coloridos de mim.
Hoje, os pensamentos se confundem, até trocam de nome...
As palavras se embaralham, as lágrimas se perdem no rosto
Saem avulsas chorando dores que não eram pra ser choradas,
Chorando saudades que não são minhas... foram contadas...
Mas ... ah esses cabelos brancos e pensamentos caducos!! 
Detalhes que se romperam em pedaços e se perderam...
As lágrimas que chorei de alegria não sei onde as coloquei...
Nem os sorrisos, outro dia até os procurei... mas o rosto...
O rosto não os guardava mais, eram outras as marcas
Pareciam vincos, traços esculpidos por mãos trêmulas
Que pareciam inseguras ao desenhar no rosto minha história


José João
01/11/2.022