terça-feira, 27 de agosto de 2024

O sabiá gorjeando a dor da saudade


Seis horas... até o sol parece orar
O sino da igrejinha grita uma oração
No meio da praça a palmeira solitária
Parece erguer-se ao céu para rezar

Em sua verde palma, um triste sabiá 
Como se ajoelhado em frente a capela 
Em trinado, parecia contar uma saudade
Que só ele mesmo sabe sentir e chorar

Porque estaria sentindo dor tão doída?
Que fazia seu gorjeio parecer um pranto?
Olhando o vazio a lhe chamar para voar
Preferia estar ali chorando com seu canto

No silêncio das seis horas, um trinado triste
Só o sabiá, na frente da igreja, parecia rezar
No sutil balanço da folha dançando ao vento
Chorava sua dor em prantos num saudoso gorjear

José João
27/08/2.024






O rouxinol triste

 Um rouxinol sempre cantava na minha janela
Todo irrequieto, buscava o gorjeio mais suave
As vezes me olhava nos olhos, olhar tão triste!
Até difícil de acreditar que olhar assim existe

Toda manhã, ainda o orvalho a se fazer carícia
Sua plumagem se assentava no corpo pequeno
Dava trinados como fossem soluços doloridos
Mas sempre a mostrar-se, embora triste, sereno

Depois, nunca mais vi meu pequeno rouxinol
Foi, como se ali não lhe coubesse mais chorar
Senti saudade ... mas ele me ensinou a cantar

Não com seus trinados, com seu doce gorjear
Mas a cantar na poesia, com palavras soltas,
Com rimas mudas, que só a alma sabe falar

José João
27/08/2.024


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Um nome escrito em lágrimas

Quando o sol começa a sorrir, vindo de mansinho,
O alvor do dia a espreguiçar-se, lento, na madrugada
Fazendo a noite se esconder do lado de lá do mundo
Meus sonhos voam em perdidas rotas, sem caminho

Sento na borda da noite, olhar perdido na penumbra,
Tentando varar o véu de orvalho que cai nas flores
Faço desse momento, a beleza da mais pura verdade
Cerro os olhos, desperto a mente, para vir uma saudade

Deixo que a mansidão do amanhecer me tome todo
E um bocejo, como se fosse uma confissão da alma,
Grita em silêncio, como se da tristeza fosse o soldo

Calado, me ponho a rezar, o silêncio me faz dueto,
Olho ainda as estrelas, perdendo a luz... pálidas
Aí me vêm nos olhos um nome escrito em lágrimas 


AMCL - Academia Mundial de Cultura e Literatura
Acadêmico: J J Cruz
Cadeira: 28
Patrono: Antero de Quental
Publicação: 01/082.024