Quem já respirou espinhos quando um adeus lhe feriu
Todo o peito, lhe rasgou a carne, lhe tomou o coração
E deixou a alma caída num canto da vida, perdida
Entre os próprios escombros?
Quem se sufocou nas próprias lágrimas que caiam
Como pétalas de flores mortas a rolarem no chão
Sem vida e sem perfume?
Quem já ouviu o silêncio do mundo que calava
O grito desesperado de uma alma perdida no nada
Chorando suas angustias em orações rezadas
Com a aflição dos pecadores que sabem
Nunca vão ter perdão?
Quem já engoliu seu pranto para enganar os olhos
E faze-los ver apenas uma miragem de horizontes
Que se faziam desenhos numa imaginação de loucura
Criada pela demência de uma dor forte, cruel
Como a espada de um carrasco que lhe sangrava,
Do peito até a alma, numa dolorosa e impiedosa incisão?
Quem já correu sozinho por praias desertas
Buscando no horizonte, pelo menos vultos,
Ou até sombras difusas, confusas de nuvens passageiras
Que lhe fizessem pensar não estar só?
Quem no silêncio frio da solidão angustiosa da noite
Esfregava freneticamente as mãos adormecidas
Fingindo que eram carinhos de alguém?
Quem já pediu clemência para a morte, e como resposta
Ela diz apenas: Mas já estás morto! Apenas...estás.
Quem, como eu, vive assim?
José João
30/11/2.012