sábado, 26 de março de 2011

Sofrer não é difícil, difícil é...


Oh! Louco destino e cruel verdugo
Que à alma engana como se criança fosse
Deixa que viva meus tristes amanhãs
Não me enganes com falsas promessas vãs

Desde muito sozinho vivo e não pedi,
Se há de assim ser, que seja, nao importa
Se meus prantos chorados por tanta dor
Caem no mundo, devassos, sem ter pudor

Por que brincaste comigo? Com meu pensar?
Dando esperanças me propondo um novo amar?
Se de mim tu zombas, se brincas com meu chorar
Já não me importo e sozinho posso esperar

A solidão que, quando pouco, me faz pensar
Ou reaver sonhos perdidos que já sonhei
E me proponho em nunca mais confiar
Em ti, falso destino, matreiro em me enganar

Sofrer? Que importa? De menos sei que ele é,
Difícil é sofrer sem no peito gardar rancor,
Difícil é sofrer calado sem blasfemar.
Difícil, destino, é sofrer sem poder gritar

Se está escrito, por mão da sorte, que devo  ser
Sozinho e triste por não merecer nenhum querer
Não vou dizer que de bom grado posso aceitar
Mas também tua complacência não vou implorar

Que seja assim, como queres, como há de ser
Até já disse do que preciso pra poder viver
Das emoções amigas que sempre comigo estão
Fiéis a mim, minha tristeza e a solidão

Se pensas, destino, que tua força me dobrará,
Se pensas castigo deixar tristeza e solidão,
Esquecido estás das dores que já sofri.
Ah! Bobo destino, tua inocência só me faz rir


sábado, 19 de março de 2011

Sempre perto


Em murmurio suave por tão doce saudade
Acaricio minha alma teu nome chamando
E aos devaneios ela toda se entrega
Como se meus olhos estivessem te olhando

Te vejo nas flores que na aurora se abrem
Te ouço na brisa que um canto sussurra
Me despertando para ouvir o teu nome
Que por mim, ele vai a tua procura

Até nas estrelas teu olhar eu procuro
E elas não negam a mim seu brilhar
Por vezes, queixosas, até me perguntam
Porque só teus olhos me podem encantar?

Eu, sem resposta,  que posso dizer?
Calado me ponho que hei de fazer?
Embora lhes diga sem querer ofender
Que só os teus olhos me fazem viver

Esse meigo brilho de olhar inocente
Que ternamente meu sonho acalenta
Por mais que o tempo te mande que vás
Sempre mais perto de mim tu estás.

José João








Tua partida



Quando partiste
Não me deixaste apenas só,
Amputaste minha parte mais vital,
Minha alma.
Agora vivo sem parte dela
Mas na verdade o pior é ter
Que suportar tua ausência.
Te procuro, te busco,
Tento até sonhar contigo,
Por vezes te sinto tão perto
Que do meu silêncio ouço tua voz.
Ah! Que dor tão doída!
Que saudade que não passa!!
Não sei como posso suportar
A falta de tua presença.
E por não saber suporta-la vem
A expressão mais verdadeira da dor:
As lágrimas.
Choro, e na minha saudade
Estão todos os teus sorrisos,
Todos os teus olhares,
Na minha angústia,
Me vem tudo que não te fiz.
Por vezes me conflito ao chorar
Por não saber se choro somente
Pela tua perda, ou se também,
Pelo remorso de não ter te dado
O que tanto gostarias
E não pude te dar.
Mas na minha razão
Tenho uma certeza maior,
Te amo. E vou continuar
Te amando sempre.
Que bom que o próprio esquecimento
Respeita tua presença
Como se pra ti ele não existisse.
Estarás sempre aqui comigo,
Sempre... um beijo
E todos os que não te dei.

José João




A dor

Há dores profundas como escuro abismo
Aberto na alma por tristes vazios
Engolem os sonhos que nele se perdem
Que saudade e pranto entre si se despedem

Até as lembranças se perdem dementes
Em sonhos que agora ficaram esquecidos
Caídos no seio de dores profundas
Escuros abismos dos enlouquecidos

E louca então fica a alma perdida
Vagando num espaço que não vive ninguém
Com gritos e prantos procura aflita
Que o escuro abismo não lhe engula também

Mas eis que chega, ser seu o abismo
E tão grande que a ela lhe pode engolir
Sobre o nada se senta, em vão procurando
Um resto de sonho que lhe faça fugir

Que fuga perdida se o espaço é vazio
E qual o caminho de rastros perdidos
Apagados que foram pelo peso do tempo
Se deixados pra vida estão dor e tormento

O vazio de mim




Que silêncio que me envolve e sufoca
Num vazio que tão denso me alucina
Quase mortas ficam as horas em agônia
Passando lentas sem precisar marcar o dia


E que dia, em mim, haveria de passar?
Se no tempo me perdi sem caminhos pra voltar
Até a noite, em meus olhos, claros dias se tornaram
E assim, não me permitem nem ao menos um sonhar


No vazio do silêncio onde gritar é não ouvir
A própria voz ao passar em pensamentos
Como se o vácuo até o pensar me roubasse...
Me deixando eterno o mais triste dos momentos


E a solidão que matreira, mansamente se apróxima
Sorrateira, ardilosa, sem ter pressa de chegar
Ao saber-me preso sem nenhum sonho pra sonhar
E tão vazio que nem lágrimas tenho mais para chorar.


José João

Despertando

Como ondas mortas meus sonhos dormiam
Perdidos que estavam do tempo e de mim
Sem uma lembrança o pensar me traía
Cheguei a pensar que da vida era o fim

Sem que se espere a calmaria se vai
Levada que seja por uma brisa qualquer
Que brisa tão leve me foi a saudade
Trouxe meus sonhos e lhes deu liberdade

De buscar-me no tempo em momentos vividos
Que tão despertos me abrem os sentidos
Em claras lembranças já quase esquecidas
Na data do tempo quase também vencidas

Desperta, aos sonhos, minha alma se pôs
Procurando no tempo momentos perdidos
Que de tão intensos, valtavam tão livres
Mostrando que assim, nunca foram esquecidos.

Agora lembro... já te esqueci



Tanto te dei, que tanto perdi e tanto chorei
Até meu sonhar, agora sei, pra ti foi tão pouco
Minha saudade, ais e suspiros, todos te dei
Pobre de mim, ao te ouvir me chamar de louco

Louco por tanto, louco por tudo, louco eu sou
Se pisas minha alma, se ris do meu canto
Se zombas do canto que minha alma cantou
Não importa! Todos sabem que louco eu sou

Se a porta se abre, o mundo se fecha, onde entrar?
Com teu sorriso, que porta, que mundo se pode abrir?
Se é sorrir por sorrir, se é chorar, onde ficar?
Se parado, ou se sobre o tempo poder caminhar

Caminhos perdidos, por sonhos vencidos, e vivídos
Em loucuras doentes, vontades dormentes, dementes
Que fazem voltar,  e no espaço perdido fazem chorar,
Que importa se louco, agora preciso e só quero gritar

Queres que grite? Um nome? Grito, não vou te chamar
Fantasma tristonho seria teu nome, seria lembrar
De beijos molhados, corpos suados, teu sussurrar
Ou mesmo gritando, prazer incontido: Quero ti amar

Que louco eu fui, se estou, ou se louco ainda sou
Marcando teu corpo, de beijo de gosto sem nenhum sabor
Na fronha uma flor perdida sem côr, o tempo apagou
Matando a vontade do corpo desnudo que a vida marcou

Caminhos perdidos, num corpo marcado por tanto prazer
Se pisas minha alma, se ris do meu pranto, agora eu vi
Em loucuras doentes, vontades dormentes, dementes
Que agora me lembro, esqueci de dizer que já te esqueci.

José João



A poesia que não fiz



Separei cento e cinquenta
e três palavras.
Separei essas palavras
Para formar uma poesia.
Por não ter tempo, separei-as
Mas não as coloquei em ordem.
Separei seis pontos,
E mais um de interrogação,
Separei seis vírgulas,
Inclusive um dois pontos.
Guardei tudo cuidadosamente
Em uma caixa de música
Sôbre minha cômoda.
O tempo foi passando...
Olhava as palavras
E não conseguia junta-las,
Minhas lágrimas não me permitiam ver
E minha dor não me permitia pensar,
Assim, as letras,  os pontos,
E até as vírgulas
Foram ficando velhas,
Foram ficando tristes,
Por mais que pedisse
Que elas ficassem alegres
Para que pudesse
Ordena-las e pô-las no papel...
Eu as sentia angustiadas,
Elas não queriam formar
Minha poesia alegre
E me culpavam pela tristeza delas
Dizendo que eu também estava triste.
Um dia achei que podia junta-las,
Fui busca-las na caixa de música,
E surpreso, percebí
Que tinham ido embora
Cento e cinquenta e duas palavras,
Os seis pontos,  as seis vírgulas,
Até o dois pontos,
Ficaram apenas ... Eu ?

José João

A gaveta do poeta

Ao poeta foi permitido
A magia de ver o invisível.
Põe sua idéias e emoções
Dentro de uma gaveta qualquer,
Sem chaves, sem trancas, sem medos
E deixa que a abram.
Só ele sabe o tesouro que guarda,
Os outros o chamam de louco
Por acharem a gaveta vazia,
Mas dela, saem sonhos dourados,
Saudades distantes...
O poeta em sua gaveta guarda até o tempo,
Guarda estrelas, flores,
Guarda até mesmo pensamentos.
Na gaveta do poeta estão guardados
O silêncio, a saudade, ilusões,
Até versos ainda não escritos...
Nela o poeta guarda todas as palavras,
Ainda que em desordem,
Mas sabe busca-las quando precisa,
Sabe onde está cada uma delas,
Por vezes nem é preciso abrir totalmente a gaveta.
Muitos e muitas vezes perguntam se ela é mágica,
Por caber ou guadar tanto...
Outras, por não conseguirem vê-la, coitados!
Acham que não existe. Entretanto
Há momentos, que até mesmo o poeta
Não consegue abri-la, em outros
Seus guardados saem tão efusivamente,
Quase que fugidos, e lá vai o poeta
Busca-los lentamente no tempo,
Como o  passado, uma saudade antiga, o silêncio,
E por vezes, até o homem que guarda
O próprio poeta.
E assim ele guarda seu tesouro
Em uma gaveta  que alguns acham que não existe,
Outros acham que é magica,
E só mesmo o poeta sabe abri-la,
Com um simples toque de coração,
Ou talvez de ... saudade.
.

Almas sozinhas



- O que nos separa não é a distância
  E na verdade, nem os caminhos
  O que nos une não é a vida
  É simplesmente sermos sozinhos

  Minha busca é árdua, onde estou?
  Talvez tão longe e de mais ainda vim...
  Entretanto, nada sob o céu tem fim
  A esperança é eterna e existe em mim

  Quem sabe possas me fazer um sonho
  Me encontra ela e eu ti proponho
  Uma vida livre, de cantar risonho
  E em belos versos em ti me ponho

- Há quanto tempo tens essa busca?
  Não sei quem és e a mim não dizes
  Se dela falas, me diz seu nome
  Me diz ao menos se foram felizes

- Há muito tempo, passado distante
  Quis o destino que mais não a visse
  E em triste loucura me perdi no tempo
  E ao me encontrar, me veio o tormento

  Que mais faço, desespero eterno? 
  Até no infinito amar é preciso
  Traduz meus versos, canta o que sinto
  Que amo e amo, sou amante contrito

  Grita comigo a beleza do amar
  Grita bem alto nos versos, na vida
  Grita que amar é mais que viver,
  Grita que amar é nunca morrer

  Grita que a morte ao amor não resiste
  Grita que a sorte é amar, não ser triste
  Grita que a vida é luta incontida
  E quem sem amor jamais é vivida

  Ñão calo! E se choro meu grito
  Que pela perda é até mesmo aflito...
  Não calo, não paro no tempo
  E haverás de fazer acabar meu tormento

  Escreve meu nome e o dela também
  Que até no infinito eu a quero bem
  Se hei de chorar por não a encontrar
  Me ajuda! E chora comigo também

  Há quanta procura e vãs tentativas
  De encontrar no caminho uma alma cativa
  Que me faça falar, falar nessa vida
  Que de muito pra mim já é esquecida

  Diz que para um segundo de amor
  De doação tão terna quanto infinita
  Se fores chorar o resto de vida
  Vale a pena, faz a vida ser bem mais bonita

José João

 












Verdade mentirosa

Á! Seja em mim uma breve passageira
Que em mim já habita uma terna companheira
Não ti preciso, em mim serias apenas vaidade
Que eu viva meus sonhos, eu e minha saudade

Jamais agora, e em momento algum me serás útil
Para chorar, tantos belos motivos tem meu pranto
A quem me entrego, a quem plenos poderes dou
De chegar sem que eu pessa, de mostrar o que eu sou

Bons amigos os tenho por tanta e fiel companhia
A saudade, por exemplo, não me deixa um só dia
E meu pranto, que beleza! Aos meus olhos extasia
A tristeza, quando chega, sempre me traz fantasia

Como vês, em que ti posso nessa vida precisar?
Não ti chamei, seja breve, tenho sonhos para sonhar
E se em teu pensar me achas a vida tão desditosa
Lamento, senhora verdade, chama-la de mentirosa

Pranto e saudade

Tão desencontrados hoje em mim chegaram
Pranto e saudade que no tempo me perdi,
Fiquei sem saber se era hora de lembrar
Ou se havia passado a hora de chorar

E não foi de tempo apenas, fatídico desencontro
Bem pior foi tentar os dois em mim juntar.
A saudade, como sempre, me trouxe um lembrar
Lembrar este que o pranto se recusava chorar

Que juiz seria eu nesse momento em que os dois
Em mim tão importantes me ajudam a viver!
A saudade me trazendo de um tempo um pensar
O pranto me trazendo de outro tempo um chorar

Em mim, os dois, sempre motivos de sonhar
Ao pranto, sua vontade não poderia negar
Que fazer com a saudade? Aos dois quero agradar.
Com cada um de meus olhos seus motivos vou chorar

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um dia perguntaremos

Onde estão o flamboiant e a chuva d'ouro
Que a primavera alegre sorrindo tece?
Onde estão o véu- de- noiva, miosotis e jasmins
As margaridas, todo flor que na primavera cresce?

Onde estão o perfume e o colorido dos montes
O verde da esperança que na primavera nasce?
Onde estão os anturios, açucenas e lirios
Onde estão a brisa, o vento em volteios vadios?

Onde está a primavera que enfeita o mundo
No tão pouco instante em que pinta o tempo
Que alegra a vida por um terno momento?

Onde está a primavera de coloridos sonhos
Em que a alma se agita por belezas tantas
Onde a flor se torna uma beleza santa?



Esses poetas...

Á! como são românticos os poetas!
Que fingindo sincero nos mentem
Chorando dores que dizem alheias
Mas são deles as dores que sentem

Se derramam em lágrimas tristes
Por histórias de amores que ouviram
Até a alma se entrega aos prantos
Por tristes momentos que nunca sentiram

Será  que são egoístas esses poetas?
Tomando dos outros a dor para si?
Ou será que os poetas são fingidores?

Brincando com as lágrimas alheias
Pela perda de belos amores?
Ou o poeta chora suas próprias dores?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Um causo de amô

- Ô cumpade prá donde ocê vai tão dipressa?
- Ô cumpade tô indo imbora, num guento mai.
  É um furmigamento nos peito, uma dô qui num dói,
  É uma farta de ar mermo livre no tempo,
  Num sei cumpade, vô andá pru mode vê
  Se tudo isso passa, num guento mais cumpade,
  Os óio é todo tempo moiado, um ardume.
- Cumpade ocê devi de tá muito duente
  Lá na capitá tem um dotô qui pode ajudá,
  Cumpade qurendo nóis vai lá.
- Priciso de dotô não cumpade. U qui vô dizê?
  Uma dô qui num dói, um chorá sem chorá,
  Um andá sem rumo sem vuntadi de nada,
  Uma lerdeza na mente, uma farta de tudo
  Sem nada fartá, é uma dô dismiolada
  Qui mi tira o tino, é uma tristeeeza cumpade
  Qui té parece um caminho cumprido, sem fim.
- Cumpade, ocê senti dô nas perna? Nos braço?
  Ocê senti dô no corpo todo?
- Num sei não cumpade que raio de dô é essa!
  Cumpade num intende é uma dô qui num dói,
  As vês cumpade achu qui é a arma qui dói,
  Qui qué chorá cum meus óio, só pode.
- Cumpade a arma num chora i num sente.
- É cumpade pode de sê, num sei não,
  Se num sê cumpade é uma duença istranha,
  Qui dá vuntade de corrê, de gritá,
  Tão istranha cumpade qui si os outro ri
  Num achu graça não, parece tudo bestêra,
  As pessoa ri de besta qui são, pra qui ri?
- Ih! Cumpade qui qui é isso, as pessoa ri sim.
- Pru mode quê cumpade? O qui é ingraçado?
- A vida, cumpade. A vida.
- Mai qui vida danada, cumpade, danada de triste
  Uma vuntade de ficá só sem dizê nada,
  Mas cumpade o mais pió é qui num tem um lugá
  Onde di eu pudê i e num sinti isso.
  Parece qui é dentro deu cumpade, e sabe duma coisa,
  Cum certeza se fosse uma muié chorava.
- Será cumpade?
- Cum certeza, cumpade, as muié pra isso
  É mais macho qui nóis.
- Sei não cumpade, mais cumpade vá pra casa
  Dê umas bitoca na cumade Zefinha,
  Conte umas prosa pra ela, cumpade qui gosta tanto dela
- Á cumpade a Zefinha foi impora, foi imbora, cumpade
 

terça-feira, 8 de março de 2011

Fragmentos

Deitar sobre os ombros da noite,
Deixar a insônia ir em busca
Das vagas lembranças, quase perdidas
Que vêm em pensamentos fragmentados
Como se fossem pedaços de vida.
Deixar os olhos percorrerem o escuro
Como se a luz estivesse escondida
Num canto do tempo, pronta para ser vista
E se deixar ficar na esperança
De que um sonho, de repente, aconteça
E tudo fique como se fosse dia,
Ou aquele dia distante que, pelo menos,
Se pensou em ser feliz.
Deixar o tempo se fundir com o espaço
E se fazerem apenas um universo
Em que a verdade e o sonho fiquem,
Ocupem todos os pensamentos
E tudo fique como sintese do infinito,
E a eternidade... só até amanhã
Ou depois...ou depois...

Ópio



Correr já não basta, caminhos não tem
Os desejos perdidos morreram também,
A verdade é fantasma por tantos conflitos
Que a dor da fraqueza insita a fugir
Em voar por veredas que saídas não tem.
Sentar no escuro sem asas pra ir
Desespero de vozes que o pensamento
Por ansia incontida, não consegue ouvir.
E a flor sem perfume por flor nunca ser
Do branco indevido de prisma se faz
Desenhando arco-íris em mentes perdidas
E nos olhos dementes figuras doentes
Flutuam no espaço e fazem voar
Como aves perdidas ao léu e sem rumo
Que qualquer vereda de caminho se faz
Desde que a vontade seja apenas fugir,
De que adianta na rota de fuga
Por medo ou loucura inalar ilusões
Pintando o infinito de cores sumidas
E na volta, a alma perder a estrada
Por tantos vazios e não voltar mais.
De que adianta deitado no tempo
Ir no teto dos sonhos buscar fantasias
Voltar na angustia e não viver mais?
Perder os sentidos, que um dia atrevidos
Lutavam na busca de apenas vencer
E nos olhos o brilho de tantas conquistas
Levavam a mente a cantar e viver.
Mas a flor sem perfume por flor nunca ser
Do branco indevido que de prisma se faz
Desenhando arco-íris em mentes perdidas
Impõe a vontade de apenas morrer;
E nos lábios selados por mais não poder
Falar ou sorrir ou dizer um adeus
A vida perdida chorando pergunta:
PORQUÊ ?

José João

Veredas



Percorrer caminhos, veredas, destino,
Percorrer a vida como estrada.
Como tempo, sem nada buscar
Sem nada pedir, por tudo querer.
Caminhar sobre o nada, sem marcas deixadas,
Em rotas perdidas que por tão vazias
Ninguém percorreu. E o horizonte?
De pálidas cores, chorando em gemídos
Bem  mais que atrevidos por não serem de dor.
Revolta da luz onde o sol agoniza,
Numa estrada tão alta. que perdida se deita,
Erguida no nada,  pra nada passar.
As cercas na beira da estrada cercando o vento
Num inutil não deixar passar
A brisa que insiste em mais não ficar.
Caminhar um caminho e levado a veredas
Que o próprio destino se recusa passar.
É a estrada perdida, sem portão,
Sem porteiras mas fechada está,
Seguir é tormento, voltar é loucura
Se rastros ficaram apomtam um tempo
Em que viver é chorar.
O destino é inverso, o caminho é perverso
Até a sombra se curva pra poder descansar,
Os pés se agitam. o pensamento se cansa
De tanto esperar
Que a curva se dobre em reta esguia
E que um novo horizonte se possa olhar.

José João

O que sou





Eu?! Sou um vagabundo
Que senta no nada
Fazendo poesia pra lua,
Bebendo sonhos e solidão
Deitado com ela na lama da rua,
Como boemio, que na noite
Desnuda a poesia para ve-la nua.
Sou um contador de histórias,
Histórias que não existem,
Que ninguém conta,
Por que ninguém quer ouvir.
Histórias alegres, histórias tristes,
Poesias sem rimas que para entender
Não bassta apenas viver
Se tem que sofrer.
Sou um sonhador, inveterado até.
Sou também inventor,
Invento sonhos, cantos e contos,
Invento sorrisos, sou até fingidor
Finjo que choro, finjo sorrir,
Finjo até sentir dor.
Entre o vagabundo, o sonhador
E o fingidor, sou apenas um história
Que ninguém conheceu ou contou.

José João

A noite





Não há de ser a noite
Apenas inspiração,
Lua, bar e boemia,
Mistérios, versos e rimas,
A noite é também poesia.
Silenciosa dama prostituta
Deitada no tempo
Despudoradamente nua,
Gozando nos versos do poeta
Que se deita bêbado na rua,
Com voz pastosa rimando estrófes
Sussurrando blasfêmias da vida crua.
E a lua? Louca ouvindo aflita
Um verso frio que o poeta grita
Como se a poesia fosse hipocrisia
Se não fingisse, ao dizer com ela,
Que amar a puta é uma eresia.
A beata? Triste é que se consome
Num sonho morto de um amor sem nome,
E o rijo corpo de suaves curvas
Sofregamente o tempo come.
Assim se faz da noite um poema ardente
Que abre o ventre tão docemente
Ao poeta bêbado e indecente
Que em seu colo dorme tão inocente.

José João

A tarde





Todos os dias
A tarde se faz um verso diferente.
Sempre belo. As vezes melancólico,
Outras vezes triste,
As vezes com cheiro de mato,
Outras vezes com cheiro de saudade,
As vezes o vento canta,
Outras vezes o silêncio chora.
A tarde se faz sempre um verso.
As vezes infinito, outras vezes eterno,
As vezes se prepara como noiva
Com grinaldas de jasmins nas cercas,
Com damas-da-noite se abrindo em véus,
Com pássaros cantando alegres
Valsas que ninguém conhece.
E eu sentado no quintal,
Na raiz de um ipê florído,
Também me sinto um verso na infinita
Beleza de um sertão atrevido.


José João

Loucuras da alma





Deixa amor, deixa que nossos sonhos fujam,
Que se escondam nas noites entre estrelas,
Que se percam entre noite e alvorada
Sonhos que sem ti não são mais nada.


São sonhos que sonhei sem que soubesses
Em todos eles, amor, pra ti nada nunca neguei
Na verdade, querida, será que foram sonhos
Ou loucuras da alma? isto nem eu mesmo sei.


Deixa, amor, que meus sonhos brinquem nos jardins,
Entre orquideas, azaléas, neste quadro que criei,
No frescor de tua boca que nem em sonhos beijei.


Nos meus sonhos, amor, és a beleza que nunca vi
És o momento, que só em sonhos, querida, vivi
És o que nunca aconteceu e o que nunca esqueci.


José João

De tanto sonhar...



O amor que hei de encontrar um dia
Será belo, terna luz divina a brilhar,
Será lindo como o céu, a brisa, o mar,
De voz doce, meiga... celestial melodia

O amor que um dia hei de encontrar
Povoa meus sonhos e me faz sempre sonhar.
Cabelos cor da noite, da noite mais luzidia,
Perfume da aurora brincando de acordar o dia

Ah! Amor, que me faz sonhar mais que existir
Me faz parar o tempo esperando acontecer
Me faz sonhar a maneira mais linda de viver

Deus, meu bom Deus quanto mais vou esperar?
-Filho, vês aquela sombra no horizonte a esvair-se?
Sonhaste tanto e ela passou sem que a visses.

José João

Parindo encantos





Quero cavalgar meus sonhos,
Romper fronteiras, sem limites,
Sem portão e sem porteiras.
Quero cavalgar além de meus pensamentos,
Ir bem longe, sem nunca chegar,
Mas sempre indo como faz o vento,
Abrir o ventre da história
E escrever meu nome em suaves
Labaredas ardentes, que não queime
Mas que marque e fique sempre.
Não quero ser muito nem ser mais,
Não quero ser pequeno nem ser pouco,
Quero ser apenas a medida certa
Nas emoções que meu sentimento despertar.
Quero preencher os espaços vazios
Sem causar dor, nem prantos
Não quero abortar versos nem cantos
Quero apenas parir encantos
Numa gestação que não seja precoce
Mas que se fecunde a cada instante.
Quero ser uma poesia única
Que ninguém entenda ou decifre
Que apenas aceite,
E nas poesias que parir
Se confundam e jamais saibam
Se são verdadeiros os meus fingimentos
Ou se são mentiras as minhas mentiras.

José João

As sempre novas coisas antigas





Lá no sotão, cheio dos fantasmas
Que povoaram minha infância
- Para as crianças todo sotão
tem que ter seu fantasma -
Ainda existe aquele baú de couro,
Cheio de coisas velhas,
Cheio de histórias antigas
Que antes nem eram histórias
Foram guardadas ali
Apenas por falta de espaço.
Albuns com retratos amarelos,
Com rostos que nunca envelheceram
Guardando sorrisos de anos,
Contando histórias dessas vidas
Cujos donos nem existem mais.
Ah! Esses sótãos cheios de relíquias!
Fazem voltar o tempo
Trazendo sorrisos, lágrimas
Como se o movimento da vida
Parasse em cada baú de couro
Guardado em cada sótão.

José João

O Mistério da alma da mulher



Ah! Como queria entender
O mistério da alma,
Mais que a beleza, da mulher.
Seus nãos com gosto de sim,
Suas lágrimas sem gosto de dor.
Saber entender o silêncio
Quando nelas, é preciso
O silêncio falar.
Queria saber dizer: te amo
Na hora em que ela precise escutar,
Queria saber
Não ser menos, nem ser mais
Ser apenas a medida certa
Na hora mais incerta,
Na hora em que ela precise chorar.
Como queria entender
O mistério da alma da mulher
Saber ama-la muito mais
No momento em que pense
Que ela não me quer.

José João

De dentro da alma





É de minha alma que a poesia
Salta, pula e voa,
Flutuando entre dores
Que se fazem à-toa
E por à-toa serem se tornam riso
E a poesia se torna canto
Por ser preciso.
É na minha alma que a poesia
Desperta, chora e grita
Se fazendo ao mundo oração aflita
Ou blasfêmias ditas
Por corações sofridos
Em que a vida já não faz sentido.
É na minha alma que a poesia
Geme, soluça e cresce
Triste pelas dores que não merece,
Pobre alma que em mim se torna
Guardado cheio de pleno vazio
Onde a solidão se completa em cio.


José João

Quando quem fala é o coração




...De seu olhar um brilho forte
Como se fosse magia,
Como se os olhos se tornassem cristais,
Como se as palavras se fizessem sol.
Um forte tremor no corpo, e as mãos,
Mostrando nervosas o sabor das palavras,
Palavras simples, mas tão profundo
Sentimento as transformavam numa declaração
Que lhe tomava, de súbito, a razão.
Seu pensamento se coloriu de sonhos
E uma emoção desconhecida lhe tomou toda
Como se viver aquele momento
Nada mais fosse preciso.
As palavras se misturavam com sentimentos
Como se tudo fosse único naquele instante,
Que palavras haviam sido ditas
Para transformarem olhos em cristais?
Ou para se transformarem em sol
E fazerem um olhar refletir no tempo
Uma doçura jamais sentida?
Que magia havia ao som da voz
Para que até as mãos tremessem
Como se sentir fosse ouvir?
Um doce frio lhe tomou o corpo
E um prazeroso desmaio,
Tão sutil quanto belo, lhe fazia flutuar
Entre sonhos e desejos.
Não podia falar, nem queria, e pra quê?
Melhor era deixar aquele momento
Para sempre... e as palavras mágicas
Sempre vivas em seu coração.
Nunca ninguém lhe havia falado assim.

domingo, 6 de março de 2011

Estranha loucura





Que estranha loucura
Pensar que a vida
É só amor e ternura.
Que estranha ilusão
Pensar em viver
Sem sentir solidão.
É razão ou loucura
Viver por viver?
É razão ou loucura pensar
Em viver sem sofrer?
Triste sonho é pensar
Que o amor é eterno
Nunca vai terminar,
Triste sonho é querer
Ganhar por ganhar
Sem nunca perder.
Ilusão é pensar
Que amar por amar
É ser sempre feliz,
Ilusão é pensar
Que viver e amar
Ou viver sem amar
É nunca chorar.

José João