domingo, 27 de fevereiro de 2011

Por toda vida? Será?



No silêncio da noite a solidão se avizinha
Como se meu sono ela fosse embalar
De mansinho ela entra, nem pede licença
E espanta meus sonhos que iam chegar

Tristes ais eu sussurro em dolorídos suspíros
Que chegam do nada, do vazio, de dentro de mim
Como se eu, dela fosse, um brinquedo qualquer
Brincando faz que a noite não tenha mais fim

A noite se cala em triste silêncio a me despertar
Gritando bem alto que a solidão em mim vai ficar
Me deito no tempo também sonolento que hei de fazer?
Será o destino? Tanto tormento me dá por viver?

Perdido o sono, no espaço os sonhos, que pena de mim
Sozinho deitado no próprio cansaço me ponho a pensar
Será que ainda tenho outro amanhã que possa chegar
Sorrindo alegre. Ou toda uma vida vou ter que chorar?

José João

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sombra perdida



São cantos perdidos num pálido pensamento
Que voa perdido sem saber onde vai,
São mãos que tremem nas poucas palavras
Que tenta escrever, e a angustia
De um silêncio que mais que calado
Se faz de sutíl por ânsia ou prazer.
O tempo pára como sombra perdida
De uma luz que se perde e não sabe brilhar.
As palavras que devem ser ditas?
Talvez se confundam e nem possam dizer,
Mas se ditas elas foram, haverão mais perguntas
Como se o acaso não quizesse entender.
As sombras, furtivas, procuram caminhos,
Cortam estradas já tão percorridas,
Já tão conhecidas por passos marcados
Que juntos faziam um só passear.
As palavras? Perdidas num eco
Que louco corria procurando voltar,
Mas as sombras furtivas lhe fazia apagar.
São momentos perdidos que por mais que se queira
Insistem em ficar. O silêncio mata outra vez
As doces palavras que alguém, bem distante
Queria falar, calado se põe,
Se nega até mesmo ousar pensar
Num vazio distante, um olhar mais vazio
Se põe a vagar procurando ver
O que não pode escutar.


José João

Paralelas



Caminho marcado por passos cansados
De rastros caídos, deitados no chão,
Mostrando o conflito em idas e vindas
Como se a distância não tivesse mais fim.
Dois pés que caminham marcando a areia
Numa ida constante deixando para trás
As marcas deixadas assim como trilhas
A outros dois pés em vinda ou procura
Que também como trilha seu rastro deixou.
Caminhos contrários, direções diferentes
Como setas lançadas que se cruzam no espaço
E perdidas de si no tempo e vão.
Passos em linhas e em retas se fazem
Jamais se encontram o destino não quis
Quanto mais deixam rastros
Os passos cansados, mais distantes estão,
Como se o desencontro por si só não bastasse
Lhes fazem da vida, duas retas quaisquer
Que nunca se encontram por tão paralelas.

José João

Ela, a solidão





Sedimentar como pedra a tua forma,
Ferir os pés nas tuas afiadas arestas
Ou sangrar os joelhos sobre tuas frestas?
Derramar lágrimas ou sorrisos na tua face dura,
Deixa-los escorrer sem rumo até perderem-se
Entre tuas fendas ou abismos amorfos e perversos.
Cair, em prantos convulsivos, sobre teu corpo
Esperando em vão tua complacência que não vem.
Esfinge petrificada, erigída pela dor sedenta
De martírios chorados, gritados em desespero,
Silenciados pelo vácuo do vazio intransponível
Que a própia dor prazerosamesnte construiu.
Calcar em tuas quinas, gumes afiados, ponteagudos,
O coração e a alma como crianças indefesas,
Que perdidas, choram sem rastros para poder voltar.
Calcinar tua indifernça como se teus olhos vazios
Fossem punhais de fogo que entram na carne,
Ferem a alma indefesa e triste caída no chão
Em agônia louca e olhar aflito, perdido,
Olhando o distante horizonte de onde não vem niguém.
E um calor escaldante de tuas próprias entranhas
Jorrando fagulhas, pontas de fogo que ferem também,
Que prantos jorrados como água da chuva
Não consegue aplacar. Ah! Pedra calcinada,
Sedimentada como fóssil que os tantos mil anos
Se encarregou de guardar, de proteger e cuidar
Que em lentos suspíros, entre maldade e furor.
Se levanta e abraça, sufoca e maltrata,
Queima e abrasa. por mero prazer, qualquer coração.
E com um sorriso de escárnio demente, até indecente
Cala o tempo e grita feroz: EU SOU A SOLIDÃO.

José João

Gota de palavras





Fecunda o ventre do meu pensamesnto
Que o vazio está prestes a ser parído,
Goza ejaculando tuas palavras espermáticas.
Invade meu ego numa gestação plena
E deixa que o tempo tome conta do crescimento,
Copúla com meu ser esotérico
Aberto em fendas dadivosas ou carentes.
Não deixa que uma só gota de palavra se perca
Escorrendo entre as coxas flácidas da vontade morta.
Revive o desejo de possuir ou ser possuído
E entra nas entranhas do pensamento
Como se invadi-lo fosse tomá-lo.
Suga seu sangue colorido como doação do prazer
E sussurra no ouvido da alma palavras indecentes,
Excitantes, que o útero do prazer se abrirá
Como se fosse flor se abrindo para o vento,
Se entregando sem reservas e sem pudor
Como se a inocência não fosse casta, nem virgem.
Ejacula tuas palavras e fecunda o ventre
Do meu pensamento deitado e passivo,
Deixa que da gestação, o tempo tome conta
E quando for tempo, o parir não será expulsar.
Será apenas guardar de outra maneira.


José João

Despertar





Calcar na face duras lágrimas
Que sangrem o rosto, que firam a alma
Como ponteagudas arestas de pedras
Atiradas ao tempo como se fossem
Fagulhas de raiva ou desespero incontido.
Atirar ao mundo injúrias profanas
Que loucuras seriam não fosse a certeza
Do querer se dizer. Grita-las,
Como se o grito fosse espada afiada
Da voz cortante que sibila fria
Procurando ferir sem alvo encontrar,
A esmo fica o dito ninguém quer ouvir
Por covardia ou medo, ou talvez por segredo
Guardando a alma de poder sentir
O tremor febril da vergonha de existir.
Palavras procuradas,como se fossem estudadas
Por tanto receio de serem inuteis,
E inuteis se fazem por não serem preciso,
Quem dera soubessem saber se calar!
Palavras que se fazem de pedaços,
Que são ditdas quando não se precisa ouvir
Por nada apagar o que é preciso sentir,
Ainda mais se a dor for um punhal
Feito de angustia, cravado no peito,
Sangrando a carne, ferindo a alma,
Calando um grito, que atrevido seria
Se pudesse sair, mas os olhos
Se fazem de voz gritando em silêncio
A raiva que explode, que corre, que voa,
Que ecoa na mente como o som de um metal,
Mas por grata ironia desperta a alma
Que grita estridente: EU VOU CONSEGUIR.


José João

Dois momentos





Lamber as cicatrizes da alma
Com a lingua dos olhos
Encharcada de saliva cristalina
Tão brilhante quanto triste
Como se a tristeza fosse luz.
Fazer do pensamento, passagem e passageiro
Entre cercas derrubadas, portas abertas,
Ou furando o concreto frio do esquecimento
E ir além, muito além da verdade,
Como se qualquer desejo estivesse
Em minhas mãos e a utópia
Fosse um mero acontecer.
Derrubar silenciosamente os muros da noite,
Invadi-lo de luz e fazer do medo apenas sombras
Pregadas nas paredes ou no chão
como se elas fossem simplismente minha vontade,
Ou me tornar transparente, límpiddo,
Como se eu fosse inocente ou a própria inocência
Incoerente passeando na noite
Como se o mundo e o tempo fossem meus.
Chutar o vazio, ironizar a solidão
Como se ela fosse um bêbado demente
Andando entre as sarjetas da rua
Que por mais larga é sempre estreita.
Derrubar os muros de pedras, e de adeus
A angustia, e se entregar outra vez
Aos novos sonhos como estradas abertas,
Sem rastros por ainda serem virgens,
E neles calcar os pés em marcas profundas
Deixando uma trilha para ser encontrado
Como se a vida começasse agora,
Ao sentir que os rastros não se fizeram
Distância, se fizeram um momento
De encontro e entrega.


José João

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Loucura




Voei no tempo com palavras soltas,
Vaguei no infinito do silêncio
Cantando uma saudade que ninguém ouvia.
Paredes surdas, paredes mudas, frias
Ou eu demente por contar sonhos ao vazio?
Percorri rastros deixados no tempo,
Percorri as horas sentado no nada
Como se o nada me fizesse voltar
Por perdidas rotas que não percorri.
Perdi os rastros da saudade, ela veio,
Mas apagou o caminho em que um dia vivi.
Percorri a vida como se fosse uma estrada,
Uma estrada que se confunde com o tempo,
Percorri parado no silêncio do escuro,
Toda uma volta ou ida. Não sei.
Ao passado é ir ou voltar?
De lá, sem dormir, acordei, vim ou voltei?
Ao longe um gemido, sussurrado, cansado,
Como se me pedisse para esperar,
Esperei parado, como já estava,
No escuro silêncio da palavra perdida
Que o sussurro cansado não podia gritar,
De quem era o gemido que ouvia?
De um velho sonho caduco,
Sonho que sonhei ainda criaça,
Lá vinha êle lentamente se arrastando,
Barbas brancas, ombros curvos,
Com voz reticente insistia em dizer
Que era um sonho que havia sonhado ontem,
Voei no tempo e fui além dos sonhos
Fui até nos prantos que já havia chorado.

José João

Brincando de fazer versos





Gosto de brincar de fazer versos
É como brincar de voar,
É como brincar de sonhar,
É como brincar de ser tudo
Sem nunca ter sido nada.
Gosto de brincar de fazer versos
Assim desenho o destino
Posso ser um deus, um rei,
Posso até ser um menino,
Posso ser um beijo, um desejo,
Posso até ser o que não vejo.
Gosto de brincar de fazer versos
Neles, posso mentir sem pecar,
Posso correr no espaço
Sem mesmo sair do lugar,
Posso fingir que estou fingindo
E calmamente chorar...

José João

Tributo


Parece que é de hoje a dor que julgava morta
Parece que é de ontem a saudade que me toma
Parece que é de sempre meu pranto de agora
Preso na lembrança que jamais se foi embora

Busco em tempos ídos os sonhos que sonhei
Que de mim perdidos se perderam por aí
Talvez em fragmentos que jamais se juntarão
Matando o que restava, até mesmo a ilusão

Flutuo no espaço por perder o meu caminho
Apagado que foi pelo tempo que me marca
Se rastros ao passar, nele deixei um dia
Marcas e caminhos se foram com a alegria

Então o pranto me toma e comigo se confunde
Não sei se eu e pranto somos dois ou apenas um.
Sei que meu corpo por cicatrizes tão marcado
Ao sol parece por minhas lágrimas banhado

Mas não reclamo esta dor agora imposta
Talvez seja tributo e de pagar chegou a hora
Quem sabe se enganaram ao me darem tanto encanto?
Agora os dividendos que me cobram é o pranto.

José João

A cor de minha tristeza






Se a tristeza tivesse cor
De que cor seria a minha?
Teria a cor do mendigo
Ou teria a cor da rainha?
Qual é a cor do mendigo?
Que cor teria a rainha?
Que cor teria a tristeza
A tristeza que sò é minha?
Teria a cor do tempo
Ou teria cor de esperança?
Ou seria colorida
Da cor que gosta a criança?

José João

Quem me ensinou, esqueceu...



Quem escreveu minha história
Se esqueceu de dizer
Que entre o amor e a vida
Existe a dor e o sofrer

Quem desenhou meu destino
Se esqueceu de falar
Que o amor acaba um dia
E o fim de tudo é chorar

Quem me ensinou a amar
De me lembrar se esqueceu
Que tudo não passa de sonho
E que a tristeza sou eu

Não precisou nem falar
Quem me ensinou a sofrer
Para sofrer basta apenas
Perder um amor e viver.

José João

Desejo de amar





Sou um ponto no universo
Em desencontro comigo
Entro em qualquer coração
Mas não encontro abrigo

Brinco de versos e rimas
Brinco de rei e mendigo
Choro dores que são minhas
Por talvez serem castigo

Escrevo cantos no vento
Para corações alegrar
Mas nenhum deles a mim
Consegue me consolar

Sou um ponto no universo
Vagando por entre estrelas
Brincando de lhes dar nome
Sem ao menos conhecê-las

Assim me lembro que um dia
Acho que me apaixonei, amei
Loucamente esse amor eu vivi
Mas ela...juro que nunca vi.

José João

Na porta da tarde





Sentado na porta da tarde,
No meio do tempo, com o nada,
Brincando de inocente dizer,
No violão um acorde risonho
Voando com o vento
E querendo viver
Na poesia, de há muito vivida
Que mesmo querendo não se pode esquecer,
Sentindo no rosto molhado,
Por lágrimas frias caindo tristonhas,
Mostrando que a vida
Também é vivida com pleno sofrer.
Caído no meio da estrada
Com um eco atrevido do nada parído
Correndo entre as dores
Até me chegar, num grito esquisito,
Ou moribundo gemido, até já não sei,
Dizendo num silencioso dizer que
Me sinta feliz pelo tanto que amei


José João

Soneto da saudade




Lá, bem dentro dos meus olhos
De onde minha alma tudo vê
Tem uma fábrica de sonhos mortos
E de poesias que ninguém quer ler

Há também um depósito de lágrimas
Armazenadas com tristezas e saudades,
Saudades antigas, saudades de agora,
De lágrimas velhas e de tenra idade

Lá, bem no fundo dos meus olhos
Onde só minha alma pode chegar
Tem um verso ainda para acabar...

Um verso louco de rimas soltas
Um verso triste de prantos frios
Um verso amargo de palavras rotas

José João

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Castigo ou prazer





O que ainda de mim posso fazer?
Com uma alma em pedaços que me faz
Chorar por não ter outro acontecer
Sonhar tentando em vão assim viver


Que é da aurora dos meus dias já perdidos?
Perdidos em sonhos em mim já falecidos
Se não ainda, profundamente adormecidos
Será que simplesmente ficaram esquecidos?


Que é do sussurrar da voz que me chamava?
Que me trazia do mundo a magia do encanto
Em belos versos mudos, declamados pela alma
Mundo mágico de uma vida sem ter pranto


Onde estão meus momentos? Onde será que esstão?
Será que dentro de mim se trancaram em masmorras?
Será que os levaste com o tempo quando partiste?
Ou será que no vazio que ficar em mim insiste?


Quantas perguntas me faço sem respostas
Opções de vida não as pude escolher
Talvez por contrição a vida me faz sofrer
Me pondo como castigo jamais poder esquecer


Mas se for por punição, ao imposto agradeço
E que castigo seria jamais poder esquecer?
Oh! Verdugo que enganado, talvez pelo meu pranto,
Me dá como castigo minha maior razão de viver.


José João

Nos braços da saudade





Quando silenciosa a noite se apróxima
Vejo da saudade carinhosa aflição
Com olhar carinhoso de mim se aconchega
Me põe no colo e me canta uma canção


Que me transporta o pensar em outra era
Em que o tempo se fazia de me ouvir
Quando sonhos verdadeiros me acordavam
E me envolviam na verdade do existir


Mas eis-me aqui, agora, e tão sozinho
Sem as lembranças que o tempo me tomou
Que o vazio em mim seria tanto e tão triste
Não fosse a saudade que sem reservas me adotou


Meu pranto é a saudade quem enchuga
Com promessas que a alma faz de lenço
Dizendo que um dia em outros braços ficarei
Dizendo que mais forte outro amor eu viverei


Só eu sei quanto a saudade me consola
E finjo dela acreditar o que me diz
Mas eterna em mim, sei que ela será
E me conforto te-la perto ao chorar.


José João

Fica pelo menos o pranto




Amei. Amei como se o amor fosse oração,
Entreguei a alma como se minha ela fosse
Não sentia o tempo tão eterno era o momento
Que um segundo sem lembrar era... tormento

Amei. Amei tanto que louco gritei ao mundo
Que seria feliz sendo rei ou vagabundo
Que podia até voar se bem assim eu quizesse
E que jamais, ao amante, o silêncio emudece

Pus aos pés as estrelas que eram minhas
Até às flores dei uma nova e bela rainha
Tanto que tenros botões até se abriram
Vendo meu sorriso comigo também sorriram

Mas talvez o destino ou a vida por traição
Não permite que se tenha tão intensa paixão
E friamente sem que se pessa ela nos diz
Que pra viver não é preciso ser feliz

Se tão dolorosa perda, para o destino, é punição
Ao amante sempre sobra e sobrará uma opção
Se a dor lhe cala, haverá sempre um sonhar
E se proibem o canto tem seu pranto pra chorar.

José João

Eu e a noite





Os olhos? Estrelas perdidas na noite.
A voz? O chorar da chuva caindo.
O canto? Um pranto e a noite ouvindo.
O sonhos? Coitados, agora dormindo.


Lembranças perdidas num outro passar
Saudades infindas haverão de chegar
Tristeza que corre e vem me abraçar
E o pranto esperando querendo chorar


A noite desperta e me pede pra ouvi-la
Me atento ao silêncio que ela me fala
E quando pergunto: Que posso fazer?
Não tenho resposta pois ela se cala


Calada escuta meu pranto tão triste
Se pode falar... nada me diz
E como a dor me chega com ela
Então pergunto: Que foi que ti fiz?


Ela em silêncio apenas me olha
Como se a fala tivesse ido embora
Então olhando, da noite, os olhos
Logo percebo que comigo ela chora.


José João

O batel ligeiro




Ao vento livre, içada as velas, desliza leve
Em mansas ondas frágil batel ligeiro vai
Levando sonhos e outros sonhos a talvez segui-lo
Por sobre o mar de águas mansas por tão tranquilo

Não busca o mundo, nem pára o tempo, seu rumo é certo
O horizonte o chama sempre e o faz desperto
Não deixa rastros, nem rastros tem para seguir
Se perde a rota, não importa, estar longe ou perto

Em ondas mansas, o batel ligeiro desliza leve
Calmo vai por tão calmo vento que lhe insufla a vela
A frágil brisa que acarícia as ondas e lhe embala o rumo
É tão gentil que lhe deixa firme, não lhe tira o prumo

Quem me dera fosse, esse batel ligeiro, minha alma triste
Quem me dera fosse, esse mar tão calmo, minha triste vida
Mas sei que o mar, que ao batel, com carinho leva
Nada mais é que sofrídas lágrimas de mim caídas.

José João

Meu grito





Por quanto ainda haverei de gritar
Para meus clamores serem ouvidos?
Se pouco forem os meus gritos
Ouçam, da alma, os tantos gemidos


Se porventura de pouco se fizerem
E outros gritos me forem permitidos
Haverei de grita-los bem mais forte ainda
Pois o farei com todos os meus sentidos


E se ainda assim, minha voz não for ouvida
Meu grito se fará em tantos prantos
Que mensurar impossível até seria
Por não serem apenas muitos, serem tantos


E se um dia, minha reticente voz cansada
Apenas sussurrar, por tão pesado ser o tempo
E tanto peso minhas mãos também cansar
Gritarei com os olhos na tristeza de um olhar


Também não chorarei esse destino
De pranto e luta que em mim se faz ficar
Mesmo por que o pranto nem sempre é chorar
Em mim foi apenas uma meneira de gritar


Que um dia ninguém me faça que eu ouça
Seus gritos, como tantos já gritei
Pois essa dor, eu a conheço, e tão bem
Que não gostaria de vê-la sentida por ninguém.


José João

Por tanto te amar



Oh! Dor que me causas e bem sabes
Que me fere a alma em chagas tão abertas
Que desfalece o corpo em mais forte agonia
Que mãe, ao ver do filho, a perda da alegria

Em prantos aos teus pés e de joelhos
Mais que te implorei, te jurei a própria vida,
Para te me fiz servo igual a cão passivo
Que do dono apanha mas o ama e é cativo

Sobre espinhos andaria e tu no colo
A proteger-te com a vida se preciso
Que jorrasse meu sangue lento ao tempo
A suspeitar que terias um segundo de tormento

Que absurdo existirá no mundo a teu agrado
Que impossivel me fosse contentar-te?
Estrelas buscaria e até a morte de bom grado
Aceitaria... simplesmente por amar-te

E se, no tempo, a vida assim me permitisse
Mil anos de pranto copioso em minha face
Por apenas um segundo mais intenso que a vida
Me permitisses que tua fronte eu beijasse

E se no mundo há o que teus olhos não possam ver
E se por ironia, os meus, a isso possam olhar
E se queres tanto, feliz assim me farias
Arranca os meus. Vê ... e me dá essa alegria

Que queres que te diga? Que te faça e te contente?
Pede. Que impossível a quem ama não existe
Se por muito a fazer-te achares pouco minha lida
Me toma. Que pra ti, é pouco a própria vida.

José João

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A liberdade da poesia





A liberdade me proibiu
Limitar os versos que escrevo
Disse que a métrica era fria,
E os versos agora livres,
Voaram tão alto que os perdi
Deixaram de ser meus,
Se entregaram devassamente ao mundo
E fizeram voz,
Gritavam sua liberdade
Na poesia completa
E a poesia feita de versos
Curtos ou versos longos
Não deixou de ser poesia.
O pensamento gritava solto
Sem medo do começo
Ou do fim do verso
E a poesia, como se tivesse
Uma roupa nova
Não se preocupou com a elegância
Queria apenas ser verdadeira,
E os versos ficaram como as pessoas,
Altas, baixas, gordas, magras,
Negras, brancas, assim como o mundo é feito.
Mas sem contradição, sempre sensivel,
Doce, terna, assim como o mundo não é feito.
Quem sabe um dia os homens tenham
A liberdade dos versos sem métrica
E a ternura da poesia completa.


José João

A noite





Não há de ser a noite apens inspiração,
Lua, bar e poesia, mistérios, versos e rimas,
A noite é também uma doce poesia,
Silenciosa dama e meiga prostituta
Deitada no tempo despudoradamente nua
Gozando nos versos do poeta
Que se deita comodamente bêbado na rua,
E a voz pastosa rimando estrofes
Sussurra blasfêmias da vida crua.
E a lua? Louca gritava aflita
E um verso frio o poeta grita
Como se a poesia fosse irônica hipocrisia
Se não fingisse, ao dizer com ela,
Que amar a puta é uma eresia,
Beatas tristes é que se consomem
Em sonhos mortos de um amor sem nome
E o rijo corpo de suaves curvas
Sofregamente o tempo come.
A noite é assim, um poema ardente
Que abre o ventre tão docemente
Ao poeta bêbado e indecente
Que em seu colo dorme tão inocente.


José João

Meu retrato





Meu retrato?! Pinto no escuro
Sem precisar de espelho,
Um ponto aqui, outro ponto ali,
Um traço, um pedaço,
Outro pedaço, mais um traço,
Me pinto de formas diferentes,
As vezes sou objeto,
Outras vezes nem existo,
Em outras sou até gente.
Meu retrato não é só um
Por que sou um a cada momento,
As vezes sou um anjo
Brincando e criança,
Outras vezes sou um homem
Brincando de esperança.
Mas quase sempre
Sou um ponto no universo
Vivendo de lembrança.


José João

O fingidor





Vou fingir que sou poeta
E ser tão bom fingidor
Que finjo chorar na hora certa
E finjo até que é dor


Vou fingir que finjo tudo
Vou até fingir que minto
Vou fingir que naci mudo
Para não dizer o que sinto


Vou fingir que deus existe
Fingir que sou poeta e blasfemar
Não preciso de um deus para ser triste
Só preciso de uma dor para chorar


Agora vou fingir que sou criança
Que ainda não aprendeu ser feliz
Não lhe permitiram ter mais esperança
E por isso finge não saber o que diz


José João