segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Viver?





Onde estarão o meus sonhos?
Será que ao longo da vida os perdi?
Será que agora desperto e percebo
Que nunca, nenhum sonho, um dia vivi.!


Onde estarão meus sorrisos?
Será que nunca aprendi a sorrir?
Será que ficaram num passado distante
Que nem eu mesmo sei se vivi?


E o brilho dos meus olhos?
Se um dia existiram, onde estarão?
Será que se perderam na minha tristeza
Ou se um dia os tive foi mera ilusão?


Onde estará minha voz que um dia
Gritando bem alto eu mesmo ouvi
Hoje emudeço em murmúrios tristonhos
Pois até meu pensar há muito perdi


Que me resta agora de mim fazer?
Que me resta pensar no que posso ser?
Se depois de tantos perdidos não sei
Se me vale, mesmo triste, ainda viver.


José João



A procura





Mar, sol agoniza, delírios leves
Pensamentos vagos e até sonolentos
Saudade viva, ardente e crua
Da vida, do tempo, dos meus momentos


O dia se vai e em mim se perde triste
Pinto teu rosto num sol moribundo
Banhado em águas pintada a esmo
Com olhar perdido no mar profundo


Te busco em raios,  nas quase estrelas
Te busco em sol,  na quase noite
Te busco em mim onde perdido estou
Te busco dentro do que já não sou


Em morte diária, lento se vai o dia
No nascer jovem de estrelas antigas
Me perco nelas vagando o olhar
Na vã tentativa de te encontrar


Que quase sol, que mar, que saudade
Que quase estrelas, que quase noite,
Que angustia! Ah! Momentos vividos...
Agora em mim como sonhos perdidos.


José João



Dentro dos sonhos





Oh! Saudade que me abraça a alma
Acalenta o sono que não quero dormir
Pois que, desperto, posso ver chegar
Todos o sonhos que preciso sonhar


Sonhos passados no tempo perdidos
Tempo em que sonhar não me era preciso
A verdade era mais e melhor que sonhar
Que gritava bem alto: A vida é amar


Agora lembrando de tantos momentos
Preso, que estou, em meu triste deserto
Com a saudade posso dormir: Não quero
Se acordado os sonhos de mim ficam perto


As lembranças me vêm e as quero comigo
Por breves momentos ainda que seja
Também que me venham saudades antigas
E feliz, nos meus sonhos, talvez eu me veja


José João

Minha oração





A Ave Maria de longe eu escuto
A mim me parece um canto de luto
Não que não sinta a beleza do canto
Mas por tão triste me entrego ao pranto


Quantas Ave Maria um dia rezei!
Rezando, solene, outra preces que sei,
Em cantiga alegres também já rezei
Agora, chorando, de rezar me cansei


Tanto rezei e pedi nesta hora que até
O joelhos feridos já não podem dobrar
Lhe pedi que trouxesse alguém para amar
Mas minhas preces ninguém pode escutar


Ave Maria, como agora sozinho, sempre escutei
Se havia esperanças rezas alegres um dia orei
Agora perdido a Ave Maria fico a escutar
E chorar, é agora, a oração que aprendi a rezar.


José João

Castigo





Pobre e gentil alma que calada chora
Um pranto triste em sutis soluços
Por sonhos que no tempo foram perdidos
Ou que pela angustia foram assim vencidos


Calado o canto por ser maior o pranto
Da saudade sentida pelos tantos encantos
Encantos que em agonia lenta faleceram
E eram bem mais que muitos por serem tantos


Dos tantos e tantos sonhos em vão sonhados
À alma coitada, um só, a ela não restou
Até a saudade que lhe embalava aflita
Se foi com o sonho e não mais voltou


Que triste agonia de vida vivida sozinha
Pois nem o eco, dos soluços, lhe voltou
Silêncio perene de um mundo já esquecido
Morto no tempo e no mesmo tempo perdido


Tão só que o tempo lhe perdeu o sentido
Que pensa de ontem as dores sentidas
E até custa a crer que essa dor de agora
Por ela, há muito, já foram vividas.


Triste silêncio nos olhos opacos, sem brilho
Quando um pranto teimoso se recusa chorar
Brilhantes se tornam se as lágrimas vêm
Mesmo que a alma se sinta, coitada,  ninguém


Docemente ao vazio minha alma cativa se torna
Faz dele o seu mundo e já nem se importa
Pois só ele, o vazio, lhe ficou como abrigo
É só o que tem, por destino ou... por castigo.


José João








Meu pecado



Só, como se vazio estivesse todo o mundo.
A vida? Um insipido deserto pavoroso
De sonhos mortos e até já esquecidos
Pelo tempo, lentamente consumidos


Sem pressa, vai ao tempo, a alma triste
Sem sequer ter um horizonte para buscar,
O silêncio atroz lhe mata um tímido canto
Não permitindo nem chorar o próprio pranto


Oh! Cruel dor que em vivo sangue deixa
Abertas as cicatrizes já quase cicatrizadas
Que na alma se fazem profundas chagas
Por minhas lágrimas sendo assim lavadas


A mim, vem de longe como um quase nada
Tristes restos de sonhos pálidos e agonizantes
Me chegam em lembranças tênues, apagadas,
Em fragmentos, pelas tantas dores choradas


Que me resta então pedir à vida ou ao mundo?
Zelo pela alma que em prantos se desmancha?
Talvez pedir que a saudade lhe tome da solidão
Como se isto fosse um pedido de perdão


Que tão pecado teria minha alma cometido
Para que a punição lhe fosse... tanto chorar?
Será que a própria vida se confundiu ao pensar
Que é pecado tão intensamente se amar?


José João

sábado, 5 de novembro de 2011

Apenas mais um





Na rua, com tanta gente,
Eu era apenas mais um,
Na multidão solitária
Eu também era mais um,
Andando nas ruas eu via
Que não tinha onde chegar
Em tantas portas fechadas
Eu não podia entrar.
Via as vitrines olhando
Minha imagem do outro lado...
Perdida
Se confundindo com os preços
Das promoções que não vendem
Nenhum pedaço de vida,
Me perdi na floresta
De concreto e solidão
Em ninguém eu via história
Por que não via emoção,
Cada rosto uma sentença
Em cada sentença uma dor
Em cada dor uma ausência
Da triste falta de amor.
Que lugar é esse?
Que não se pode brincar
De fazer poesia
Ou conjugar o verbo amar.


José João