sábado, 22 de outubro de 2011

A noite e a saudade





Bruxuleante do candeeiro a chama tímida
Que pela noite quase engolida e ainda assim
Iluminava a mente, o papel e a pena fina
Que insistia escrever um verso quase sem rima


Ao longe, no bambuzal, dançando ao vento
Cantava, a coruja, canção nefasta a exprimir-se
Em desencontradas notas em tão compasso lento
Que o próprio tempo, ao vento lhe fazia esvair-se


Em mim, a alma triste, na noite a espelhar-se
No silêncio que as vezes não cansava de chamar
Um nome que meus lábios  tremiam ao murmurar
Um nome que a alma chorava soluçando ao lembrar


Dos olhos, por ela, duas lágrimas tristes a rolar
Uma mocinha, já nos lábios, ternamente a me beijar
Outra, pequena menina, ainda nos olhos a passear
Brincavam em meu rosto, de o rosto dela desenhar


Um grito na noite em que a aurora por mera teimosia
Ou, quem sabe,  por capricho insistia em não chegar
E eu, por tanto amor, até juro que ali estava
Na pálida luz do candeeiro seus olhos a me olhar.


José João





quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A poesia de ontem



Ontem escrevi uma poesia sem nome,
Versos sem rimas, palavras cansadas, vazias
Assim com se elas fossem minhas lágrimas
Caindo no papel e escrevendo minhas dores.
A poesia sem nome que ontem escrevi
Era como se fosse palavras soltas, sem nexo
Contando histórias que nem lembrava mais,
Buscando dores guardadas, reabrindo cicatrizes
Que, na alma, pareciam saradas, calcinadas.
Mas se abriram novamente, sangraram
Abundantes em dores, em gritos, que a alma
Alucinada e triste grita a esmo chorando sozinha.
Sem tempo, sem rumo, num espaço que não existe
Por que tudo ficou para traz sem caminho de volta.
Ontem escrevi uma poesia sem nome, tão triste
Que me restou apenas dizer, não mostrar
Para que ninguém chore a dor que é só minha
Essa dor tão grande que fez minha poesia sem nome
Ficar sem fim. Infinita como se a dor de sempre
Ficasse eterna a cada momento.

José João




segunda-feira, 10 de outubro de 2011

simplesmente não sei





Hoje o que sinto não é dor nem saudade,
Nem angustia, nem tristeza, nem ansiedade
Hoje o que sinto, não sei, é um gosto de nada
Tão intenso que deixa a alma marcada


A vontade se foi, nem de chorar eu preciso
Talvez me falte o que ainda  não sei
Talvez no caminho perdido em que caminhei
Com ele perdido também eu fiquei


O mundo se cala em silêncio profundo
Perdidas as cores como no fim do mundo
Amanhã outro dia, se importa? Não sei
Que vivam as lágrimas com que me banhei


Ouço do nada o som do vazio que só eu posso ouvir
Me atento a um pranto de longe ouvido, um sussurro...
Loucura talvez, mas posso escutar o silêncio falar...
Posso escutar o silêncio cantar... ou chorar?


Percebi que o vazio lá de fora é o de dentro de mim,
Até a loucura que dizem vazia, em mim tem razão
Que louco eu sou se ontem chorei e não me esqueci?
Será que é loucura dizer que um dia... vivi?


José João

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Saudade cativa





Oh! Silêncio que em minha alma chega
Que nem um teu sussurro em mim se faz ouvir
E me atento ao eco do grito que gritei
Mas ele não volta como no tempo voltei


O tormento me atormenta em pesadelos
De momentos que o destino a mim impôs
Me matando de ontem o sonhos e os de hoje.
Para sonhar não me deixou nenhum para depois


E eis que o vazio me envolve e até diaria
Que bom seria se tão triste ele não fosse
Mas em que lugar estar a mim me importa?
De onde esteja para o mundo não tem porta


E que mundo haveria de uma porta me abrir?
Se o tempo não permite que a ele volte outra vez
A não ser pela saudade que a mim se faz cativa
Ou também pela lembrança que à alma deixa viva.


José João

O provedor de lágrimas

Quanta dor ao peito aflige em triste angústia
Quanto pranto, por tristeza, derramado!
Mas que seria da alma muda e silenciosa
Não fosse, por sorte, o prazer de ter chorado?

Chorado um pranto que, mesmo triste, ainda é belo
E nela, na alma, que bom a saudade ter ficado
Assim o tempo não se faz cruel carrasco
E da alma, o pranto, é prazer por ter amado

Por destino o tempo, para a alma, não é passageiro
Nem tão pouco a alma, para o tempo, é viajante
As duas existências se confundem e por tanto
De eterno para a alma também será o pranto

E eu, da alma, pequeno espaço a contentar-me
A ser somente provedor de lágrimas e de pranto
Que em soluços e tristes ais se vão ao tempo
Apagando lembranças do que um dia foi meu canto

sábado, 1 de outubro de 2011

Vagando no vazio




Vagando no tempo,
No espaço andando por não ter chão,
Palavras torpes e até injurias calado ouvia,
E a alma, em triste pranto, sangrava o peito
Rezando orações noviças que nem eu sabia.
Tétrico silêncio calava a voz. Um murmurio frágil
Saia em busca de se fazer ouvir.
Afiadas vozes como frias lâminas
Me feriam a alma em profundos golpes
E a dor mais fria que lascinante
Em desespero chamava as lágrimas
Que moribundas, em gigantesco esforço,
Se faziam fortes.
Chorava, como se o pranto fosse oração,
Juntava as mãos em demente postura
E fugia, corria com passos bêbados
Como se tudo em minha volta fosse loucura,
Assim não me permiti encontrar entre os prantos
Um momento de sutil lucidez que me levasse
À doce surdez para não ouvir
O que em mim, me doia tanto.

José João